
Vinho, café especial, lúpulo: região de Ribeirão e Franca diversifica vocações no agronegócioon fevereiro 10, 2022 at 12:01 pm
- fevereiro 10, 2022 Nos últimos dez anos, atividade no campo foi além da cana-de-açúcar, promovendo novas culturas. Região se tornou referência nacional em amendoim. Reportagem marca 10 anos do g1 na área de cobertura da EPTV. Produção de cafés especiais em Cristais Paulista, SP
Igor do Vale/ Divulgação Café Minamihara
A vocação histórica da região de Ribeirão Preto (SP) para a cana-de-açúcar é facilmente evidenciada em números: 17% da matéria-prima processada no Centro-Sul do país sai daqui. Como consequência, essa parte do interior paulista também responde sozinha por 22% do açúcar e por 14% do etanol produzidos, segundo dados de 2021 da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).
Mas entre 1,4 milhão de hectares de canaviais espalhados pela já chamada “capital do agronegócio” e seu entorno, novas culturas começam a fertilizar diferentes vocações no campo, algumas delas até então inimagináveis, principalmente nos últimos dez anos.
Videiras de Cabernet Sauvignon e Barolo, cafezais selecionados de Arábica, plantações de lúpulo, produção de queijos orgânicos e criação de gado de corte de alto valor agregado encontram espaço nessa nova configuração agropecuária da região, gerando empregos, impulsionando tecnologias, conhecimentos e novos espaços de atuação profissional.
Ao mesmo tempo, outras culturas como o amendoim se consolidam ainda mais no cenário nacional. Na região de Jaboticabal (SP), a produção corresponde a 37% de toda a leguminosa que foi exportada pelo país em 2021, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
“Você tem a região de Ribeirão Preto com algumas características específicas de produção, como é o caso de cana-de-açúcar, mas também tem amendoim. A região é a maior exportadora de amendoim no Brasil. Outra coisa extremamente importante é que a região de certa forma acabou apresentando uma certa diversificação nos últimos tempos quando você começa a ver a inclusão de outras culturas”, analisa o consultor em agronegócio José Carlos de Lima Júnior.
Esta reportagem é uma das produções especiais que marcam os 10 anos do g1 EPTV, que cobre 317 cidades no interior de São Paulo e no Sul de Minas Gerais. Em 10 de fevereiro de 2012, o portal de notícias da Globo iniciava suas atividades com as afiliadas da emissora em Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), São Carlos (SP) e Varginha (MG).
Produtores do Café Minamihara, em Cristais Paulista (SP)
Igor do Vale/Divulgação Café Minamihara
Cafés especiais à sombra de abacateiros
Anderson Minamihara tem 34 anos e está na quarta geração de uma família de imigrantes japoneses que começou a plantar café no Paraná, mas que se mudou para o interior de São Paulo nos anos 1970 depois de uma geada que dizimou plantações no Sul em 1965.
Foi no município de Cristais Paulista (SP), às margens da Rodovia Cândido Portinari (SP-334), que o pai dele, Getulio Minamihara, recomeçou o plantio ainda de forma convencional. Gradativamente, ao longo dos anos, o cafeicultor foi estabelecendo princípios que, desde 2016, o tornam uma referência em cafés especiais na Alta Mogiana, região já conhecida por sua cultura cafeeira tradicional.
A fazenda é uma das dez produtoras de cafés especiais certificadas na Alta Mogiana, que abrange 15 municípios na região de Franca (SP), segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).
“A região é propícia, porque tem uma boa altitude. Acima de 900 metros para o café arábica já é [uma altitude] boa para ter qualidade. A região da Alta Mogiana é uma das mais antigas que ainda produzem café no Brasil. A qualidade daqui é bem conhecida”, afirma Anderson, que é diretor comercial da empresa.
Apenas frutos maduros são utilizados na produção de café especial em Cristais Paulista, SP
Igor do Vale/ Divulgação Café Minamihara
Ainda nos anos 1990, os Minamihara abandonaram o uso de defensivos e começaram a criar um terroir próprio. Inspirados nos pés de café que crescem naturalmente nas florestas da Etiópia, eles cultivaram mudas sob abacateiros.
“Logicamente que existem vários avanços técnicos de modificação genética de variedades que fazem com que a gente tenha plantas que funcionem muito bem a pleno sol, mas naturalmente o café é uma planta sombreada e aqui na Minamihara mais da metade da nossa produção é sombreada, o que é uma coisa super rara no Brasil”, afirma Martha Grill, gerente operacional da marca e campeã brasileira de barismo.
Cuidados únicos na colheita, que por vezes acontece à noite e em diferentes estações da lua como forma de modificar as características da bebida, atenção redobrada à seleção de grãos, sempre maduros, e a torra controlada consolidam um café que já chegou a receber nota 90, em uma escala que vai até 100, e a ganhar prêmios em eventos como o Cup of Excellence.
“É como se fosse uma microrregião dentro da Alta Mogiana, porque aqui dentro esse ambiente orgânico e sombreado, é muito mais úmido, com muito mais matéria orgânica para as bactérias e leveduras crescerem. A gente acaba criando um terroir específico, que aliado ao terroir da Alta Mogiana, que é excelente para produção de cafés de qualidade, fazem com que o café Minamihara seja reconhecido nacional e internacionalmente”, afirma Martha.
Produção de café especial em fazenda na zona rural de Franca, SP
Igor do Vale
A pontuação mais alta foi alcançada pela empresa com o catucaí-açu, uma das mais de 50 variedades produzidas em 500 mil pés plantados em aproximadamente 100 hectares. Seus grãos são comercializados, em média, a partir de R$ 180 o quilo, em sua grande maioria para o exterior, sobretudo para Europa, Japão e Estados Unidos.
No Brasil, o café somente é vendido pela internet e em cafeterias e restaurantes selecionados.
A recente alta no preço do produto convencional e um maior interesse pelas bebidas especiais são oportunidades para ampliar esse escopo no mercado interno, avalia Anderson Minamihara, que vê o segmento crescer principalmente na procura.
“Hoje em dia a gente vende sacas de cafés especiais de café torrado para todo o Brasil. A gente manda para o Espírito Santo, Amazonas, Pará. Em 2016, 2017, a maioria dos nossos clientes era do Sudeste e do Sul”, diz.
Nos planos da empresa estão ações de marketing, visitações guiadas para degustação na propriedade rural, além do lançamento de um café especial de entrada para ser vendido nos supermercados. Para 2022, a expectativa é bater a marca de 120 sacas direcionadas para o mercado interno.
“O mix de produto aqui no Brasil ainda é pequeno, por isso a gente quer montar essa experiência de consumo inteira para o cliente conseguir enxergar um valor maior do nosso produto”, afirma Anderson.
Cafezal florido dos Minamihara em fazenda na zona rural de Franca, SP
Igor do Vale
Sangiovese, barolo e cabernet na Alta Mogiana
Café, algodão e cana-de-açúcar estão na história de trabalho da família de Luís Roberto di San Martino Lorenzato di Ivrea, mas desde 2009 o descendente de italianos decidiu plantar em Ituverava (SP) mudas de uvas dos seus vinhos favoritos na Itália, da Sangiovese, matéria-prima do famoso Brunello de Montalcino, a Barolo e Nebbiolo.
“Foi por um acaso que descobri uma propriedade em que a amplitude térmica no inverno é muito alta, noites frias, dias quentes, além de ser muito seco. E cheguei à conclusão que daria para plantar uvas de vinho”, lembra.
Depois de encarar descrença e dificuldade em encontrar mão de obra qualificada, o empresário se orgulha de ter recriado um pedacinho da “Bota” em meio à Alta Mogiana, inaugurando uma vocação agrícola antes inimaginável na região e que começa a ganhar novos adeptos.
O empresário Luís Roberto di San Martino Lorenzato di Ivrea mostra uvas para a produção de vinhos em Ituverava, SP
Arquivo pessoal
As videiras da Vinícola Marchese di Ivrea produzem 60 toneladas de uva e 40 mil litros de vinho por ano, de tintos a espumantes que servem restaurantes em São Paulo, Ribeirão Preto, Uberlândia (MG) e Brasília (DF), clientes da Suíça e dos Estados Unidos, e principalmente os milhares de turistas que já passaram pela propriedade no interior de São Paulo.
Lá, eles conhecem a produção e degustam dez rótulos de vinhos, além de grappas – bebidas destiladas produzidas a partir da fermentação do bagaço da uva -, em harmonização com queijos.
Para deixar a experiência mais atrativa e ligada às origens italianas dos donos, a vinícola também serve um almoço com um dos pratos mais tradicionais da Toscana, a bistecca alla Fiorentina.
“Abrimos a vinícola aos sábados para uma experiência totalmente de imersão no mundo dos vinhos. O turista vem até a vinícola, conhece vinhedos, conhece as plantas, entende a posição dos galhos, como é feita a poda, como é feita a irrigação. Depois a gente vai para a fábrica, vê o passo a passo da industrialização, depois vamos à sala onde é feita a degustação”, explica.
As videiras cultivadas desde 2016 na vinícola Marchese di Ivrea em Ituverava, SP
Arquivo pessoal
A cerca de 70 quilômetros dali, em Franca (SP), os vitivinicultores Maurício Orlov, de 55 anos, e Fernando Bizanha, de 58, apostaram no plantio de mudas trazidas da França para iniciar a produção de vinhos com uvas cabernet sauvignon, cabernet franc e syrah.
Os produtores rurais tinham em mente que as características climáticas da região, as mesmas que favorecem os cafés, poderiam também cair bem para os vinhos finos.
“A ideia surgiu em 1994, quando tivemos um inverno intenso e passou pela minha cabeça que talvez se pudesse fazer vinhos de qualidade em Franca e foi levada adiante a partir de 2012, quando se iniciou a busca por conhecimento técnico a respeito da viticultura em nossa região”, explica Orlov.
Uvas cabernet sauvignon, cabernet franc e syrah são cultivadas em Franca, SP, desde 2016 para produção de vinhos
Arquivo pessoal
A aposta não só deu certo como o retorno na lavoura superou as expectativas. “Esperávamos a primeira colheita após três anos de plantio, porém tivemos a grata surpresa em colher já no segundo ano frutos com alta qualidade”, conta o produtor.
Em parceria com vinícolas parceiras, para viabilizar a vinificação, em 2018 a Arcano levou ao mercado sua primeira safra com um total de 234 garrafas. Com um total de 15,5 toneladas de uvas colhidas, três anos depois já eram 12 mil garrafas, destinadas a restaurantes e empórios da região.
Em 2022, a expectativa é de que esses números se elevem ainda mais, com 20 mil garrafas para uma produção de 25 toneladas da fruta. Além disso, os empresários planejam promover visitações para difundir ainda mais a cultura do vinho no interior de São Paulo.
Em 2022, Arcano espera produzir 20 mil garrafas com 25 toneladas de uvas em Franca, SP
Arquivo pessoal
“Nosso propósito sempre foi de fazer o melhor possível e continua sendo desta maneira. O terroir da Alta Mogiana era inédito para produção de vinhos finos, porém tinha e tem todas as características para fazermos um vinho de destaque”, diz.
Aos olhos de quem viu esse movimento começar, potencial para o vinho a região tem de sobra. “Com certeza essas famílias que estão agora entrando na vitivinicultura darão lustro ao vinho paulista, ao vinho brasileiro. Nós vamos somar ao excelente trabalho que já tem sido feito nos outros estados”, afirma Lorenzato di Ivrea.
Na região da Alta Mogiana, em Franca, SP, produtores cultivam uvas para vinhos especiais
Arquivo pessoal
Lúpulo da região para o Brasil
A mesma vontade de fazer o que antes parecia improvável mobilizou uma agritech de Ribeirão Preto a firmar uma parceria com a Ambev para o cultivo local de lúpulo. Desde o final de 2021, a Silver Hops e a gigante de bebidas trabalham com nove variedades da planta em uma fazenda com o intuito de analisar a adaptação em solo brasileiro.
A expectativa inicial é de que o cultivo chegue a 5 hectares e produza em Ribeirão Preto , ainda em 2022, os primeiros 500 quilos do insumo para a produção de bebidas da multinacional Brasil afora. O projeto deve incorporar um volume total de 10 toneladas no primeiro ano contabilizando outros parceiros no país.
A matéria-prima inicialmente deve servir exclusivamente para a produção de cervejas da Ambev.
“Vai depender de como vai ser a questão da colheita, quantidade e produtividade pra conseguir entender quais cervejas serão feitas”, explica Laura Aguiar, head de conhecimento e cultura cervejeira da empresa.
Plantação de lúpulo já começa a dar resultados em fazenda na zona rural de Ribeirão Preto, SP
Divulgação
Básico na composição da cerveja, o ingrediente utilizado no Brasil ainda é predominantemente importado, embora esteja em crescimento no território nacional. Encontrado na Europa e na América do Norte, o lúpulo se desenvolve geralmente em ambientes com temperaturas amenas, com alta incidência de luz solar e em condições de umidade do solo específicas.
Em uma primeira avaliação, Ribeirão Preto tem pontos a favor e contra a serem trabalhados no manejo.
“A maior dificuldade é conseguir unir essas duas coisas e uma umidade de solo adequada. No país existem regiões com temperatura mais baixa, mas que não têm alta incidência de luz. Em Ribeirão Preto, a gente tem uma temperatura um pouco mais alta, mas com alta incidência de luz. Então tem fatores mais e menos positivos”, diz.
Cultivo de lúpulo em Ribeirão Preto, SP, usa técnica que pode contribuir para otimizar as características ideais do solo
Divulgação
De acordo com Laura Aguiar, as novas tecnologias permitem, por exemplo, que a interação do lúpulo com o calor seja analisada por meio de um processo chamado de espectroscopia. Além disso, é possível criar e controlar à distância uma iluminação especial para o cultivo, bem como utilizar a fertirrigação, técnica que pode contribuir para otimizar as características ideais do solo.
“Existe uma série de tecnologias que podem ser aplicadas e que vão ajudar a compensar essas características do clima diferente aqui no Brasil.”
Segundo Laura, ainda não é possível apontar que características esse lúpulo vai conferir às cervejas nem de que forma isso vai impactar nos custos de produção, mas reconhece que iniciativas como essa são um passo importante para que o Brasil conquiste independência com relação a outros países, além de uma maior identidade em suas bebidas.
“Uma coisa que a gente observa com aprendizados de outras regiões do mundo que plantam lúpulo é que a característica específica dele depende não só do clima, mas do manejo, de como esse lúpulo é plantado. A gente ainda não tem certeza quanto a qual característica o lúpulo de São Paulo vai ter, mas sabe que o manejo interfere e provavelmente a gente consiga ter um terroir diferente”, afirma.
A flor do lúpulo cultivado em Ribeirão Preto, SP, para produção de cervejas
Divulgação
Queijos orgânicos com sotaque italiano
Seja para amantes do café, seja para os apaixonados pelo vinho ou pela cerveja, uma fazenda de Cássia dos Coqueiros (SP) promete oferecer a combinação ideal com uma produção de queijos orgânicos de alta qualidade em um processo sustentável.
Baseado na experiência que concretizou na Toscana desde os anos 1980, o italiano Piero Alberti, de 57 anos, se mudou em 2014 para o Brasil, onde implantou um cuidadosa prática que vai desde o alimento das vacas e a ordenha até a maturação dos diferentes derivados na Fazenda Terra Límpida.
“Eu poderia pagar para fazer esse trabalho, mas gosto de por a mão na massa, gosto de ver os animais, de ter contato. Minha esposa tira leite, ela adora as vaquinhas, conhece cada uma delas”, afirma.
Queijos orgânicos produzidos em Cássia dos Coqueiros, SP, por família italiana
Arquivo pessoal
Nessa cadeia produtiva, que foca menos em quantidade e mais em qualidade, 180 vacas rendem 1,4 mil litros de leite por dia e possibilitam a fabricação de 17 variedades de queijos como Frassinella, Ginestrella e Mozzarella, além de creme de leite, doce de leite, iogurte e manteiga.
“Para nós, produtores, claro que em uma economia de escala seria melhor fazer uma coisa só, mas a gente também tem um lado artesanal, artístico, a gente gosta de fazer coisas novas, gosta de desenvolver. (…) A gente está desenvolvendo outros queijos ainda, está trazendo a experiência, a tradição, a cultura dos queijos que temos lá [na Itália] para o Brasil”, diz o produtor rural.
Para ter um produto mais saboroso, a equipe da fazenda tem como princípio básico não utilizar agrotóxicos na propriedade, o que garante traz benefícios à alimentação dos animais. Na hora da ordenha, um sistema computadorizado avalia não só as condições do leite extraído como também da vaca.
“Ela [a vaca] chega na sala de ordenha, onde já se encontra o código dela, todos os dados dela que estão gravados até aquele momento. O operador vai com muito carinho apertar ela e ela vai ser ordenhada. Lá tem um medidor de compatibilidade de leite que analisa o leite na hora, que vai fazer comparação no computador que tem gravado o padrão dela com a relação entre produção e produtividade, que consegue sinalizar de forma imediata se aquela vaca está no padrão de saúde”, explica Alberti.
Produção de queijos em Cássia dos Coqueiros, SP, utiliza leite do gado da raça Jersey
Arquivo pessoal
Esse monitoramento permite indicar problemas de saúde, que preferencialmente são tratados com medicamentos naturais. “Se não é uma coisa ou outra, significa que pode ser que ela esteja no início de uma inflamação no úbere [excesso de fluído na glândula mamária], então a gente entra com homeopatia, com remédios fitoterápicos.”
O produtor explica também que a escolha dos animais, da raça Jersey, faz toda a diferença na qualidade da matéria-prima.
“É uma raça pequena, mas é o melhor leite de vaca que dá para encontrar entre as raças de vaca, porque tem características exclusivas. Ela consegue fixar o betacaroteno [pigmento antioxidante natural], então é um leite mais amarelado. Isso significa que está trazendo mais vitamina para quem consome”, afirma.
Vacas leiteiras recebem tratamento especial na hora da ordenha na fazenda Terra Límpida, em Cássia dos Coqueiros, SP
Arquivo pessoal
Os cuidados seguem na maturação dos queijos, que podem levar dias ou até seis meses, a depender da variedade, e é feita em prateleiras de madeira, inox ou fibra, de acordo com a fase e o tipo de queijo.
“O Bucaneve, tipo brie com mofo branco muito delicado, tem uma câmara fria exclusiva. Neste lugar, se desenvolvem os aromas e o cheiro fino desse tipo de queijo, sem contaminação com outros”, acrescenta.
A fazenda mantém suas vendas direcionadas exclusivamente para os clientes de diferentes estados que visitam o interior de São Paulo para conhecer as iguarias italianas da propriedade. A empresa agora estuda expandir seu mercado para restaurantes e empórios, mas sem perder a filosofia de trabalho que a inspirou no início.
“Daqui a um ano eu vou encontrar uma peça de queijo e consigo te dizer quais foram as vacas que deram leite, qual horário, quantos litros cada uma deu, quem tirou o leite, quem processou, de qual forma”, afirma Alberti.
Produção de queijos e doce de leite da fazenda Terra Límpida, em Cássia dos Coqueiros, SP
Arquivo pessoal
Gado de corte: manejo de alto valor agregado
Na propriedade rural do engenheiro agrônomo Rafael Ribeiro Trajano Telles, de 33 anos, em Rifaina (SP), o animal de criação é o touro Senepol, direcionado para um mercado interessado em gado de corte de alto valor agregado.
Originária do cruzamento de raças do Senegal e da Inglaterra nas llhas Virgens Americanas, a espécie foi introduzida no Brasil há cerca de 20 anos e tem atraído cada vez mais criadores, inclusive na região, por características como rápido crescimento, fácil adaptação, inclusive ao calor, docilidade no manejo, alta resistência a moscas e longevidade.
“Outra grande vantagem é conseguir colocar uma maior produtividade, um maior peso nos bezerros, nos garrotes, nos bois, assim como nas fêmeas. A cria deles, juntamente com qualquer cruzamento que seja feito, coloca mais peso, e colocando mais peso, isso nos traz uma maior rentabilidade”, afirma.
Fazenda em Rifanina, SP, trabalha manejo de gado da raça Senepol há cerca de dez anos
Senepol da Barra/Divulgação
Da quarta geração de uma família de pecuaristas, Telles conta que, até cerca de dez anos atrás, nunca tinha trabalhado com gado puro de origem, mas, ao fazer os primeiros manejos, notou que atuar com o Senepol seria promissor.
“Usamos o Senepol no cruzamento industrial em vacas Nelore e conseguimos agregar produtividade. Os bezerros nasciam pequenos, ou seja, não tinha problema de parto nas novilhas, a gente conseguia desmamá-los mais pesados e consequentemente criá-los, engordá-los e, assim, conseguir uma maior rentabilidade em menor tempo.”
Somente na Fazenda Senepol da Barra, com 250 hectares, o pecuarista já registrou duas mil cabeças de gado dessa raça. Um trabalho que contou com suporte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para melhoramento genético.
“A gente conta com um centro de avaliação e performance próprio dentro da fazenda que faz todas as avaliações dos animais, para realmente entregar ao mercado somente aquilo que tem de melhor: animais que vão produzir mais, que vão chegar no campo do nosso cliente e vão agregar valor para eles.”
Fazenda em Rifaina, SP, já abrigou duas mil cabeças de gado da raça Senepol desde o início do manejo há cerca de dez anos
Senepol da Barra
Tecnologias como um ultrassom de carcaça auxiliam no diagnóstico de informações relevantes para a comercialização do gado, como espessura de gordura e tamanho de cortes como a picanha. “A gente consegue ver esses animais enquanto eles estão vivos, como eles são.”
Além dos animais, machos e fêmeas, Telles comercializa o material genético em grandes centrais de reprodução e tem como principal público criadores brasileiros voltados para engorda e abate.
“Hoje você é capaz de encontrar a nossa genética em todos os cantos do Brasil. Inclusive alguns dos touros também já têm sêmen exportado”, acrescenta.
Segundo o engenheiro agrônomo, o segmento tem atraído não só criadores da região como de todo o país, e deve crescer nos próximos anos.
“Vamos precisar produzir cada vez mais para atender esse mercado, porque é muito grande. A gente vai precisar de cada vez mais criadores para que consiga atender essa demanda, que está tornando cada vez mais uma pecuária de lucratividade, uma pecuária mais moderna, uma pecuária de resultados.”
Amendoim: de alternativa para solo a produto de exportação
Enquanto queijos, vinhos, gado de corte e cafés especiais ganham espaço, culturas antes consolidadas como a do amendoim adquiriram ainda mais importância na região conhecida pela predominância dos canaviais.
A leguminosa rendeu a Jaboticabal (SP), em 2018, o título de capital do amendoim, dado pelo governo de São Paulo. Fazendo jus a isso, em 2021, ela e mais 13 municípios responderam por 13% de toda a produção paulista, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA), além de 37% das exportações brasileiras, de acordo com a União.
Nesse período, a regional produziu 88 mil toneladas, quase o dobro de dez anos antes, com 48 mil toneladas.
Lavoura de amendoim em Jaboticabal, SP; cultivo na zona rural da cidade se tornou um dos maiores do estado
Arquivo pessoal
Plantado desde os anos 1980 na região de Ribeirão Preto como alternativa para renovar o solo das plantações de cana, o amendoim inicialmente era um incremento de renda para os produtores.
Mas isso começou a mudar nos anos 1990, com a mecanização da colheita e o melhoramento de variedades, que aumentaram a produtividade e tornaram a cultura mais rentável, explica o zootecnista Sérgio de Souza Nakagi, de 46 anos, diretor da Cooperativa Agroindustrial de Jaboticabal (Coplana).
“O profissionalismo da atividade ocorreu no decorrer do tempo, quando a cooperativa, buscando atender os cooperados, investiu em capacitação dos técnicos, melhorou a gestão, forneceu suporte nos insumos, peças, implementos e máquinas, buscou a produção de uma semente certificada, uma marca própria. Desde o campo até a indústria, melhorou os processos de recepção e armazenagem, expandiu novas filiais”, afirma.
O agricultor Claudio Gladenucci expandiu cultivo de amendoim em Jaboticabal, SP
Arquivo pessoal
A partir dos anos 2000, como consequência da busca por certificações e do incremento de tecnologias, o amendoim da região não só ganhou notoriedade nacional como passou a despertar interesse de outros países, que hoje representam 60% das vendas.
Atualmente, a cooperativa com sede em Jaboticabal tem mais de 1,1 mil integrantes que cultivam amendoim em 26 mil hectares, área 36% maior do que a cultivada dez anos antes. Em média, cada um desses hectares rende 200 sacos da leguminosa, o dobro da produtividade de 30 anos atrás.
Somente com exportações, de grão em grão, a região tem movimentado, em média, US$ 100 milhões por ano, principalmente com negócios firmados com Rússia, Argélia e Ucrânia, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
“É um processo contínuo de crescimento e inovação na atividade, juntamente com a sucessão de muitas famílias, em que os filhos passaram a estar à frente dos negócios, optando pela cultura do amendoim, devido à boa remuneração da atividade”, afirma Nakagi.
Cultivo de amendoim se consolidou nos últimos dez anos em Jaboticabal
Gerhard Waller/Esalq
Foi aprendendo com o avô e com o pai que o agricultor Cláudio Aparecido Gladenucci, de 51 anos, entrou para a produção de amendoim. Hoje, ele controla em torno de 800 hectares de plantações da leguminosa em rotação com outras culturas como a soja.
A área é quatro vezes maior do que a do período em que arrendou as terras da família, há 11 anos. Além da fazenda em Jaboticabal, ele precisou buscar lavouras em outros municípios para expandir a produção e atender a demanda crescente.
“Minha produção é regional. A gente pega as áreas de expansão até um raio de 200 km, já estou andando até um pouquinho mais, porque, como a cultura do amendoim cresceu muito, a nossa região está bem disputada”, diz.
Segundo Gladenucci, em torno de 80% do que ele produz é destinado a Europa e Ásia e o restante vai para o mercado interno, sobretudo para fábricas de doces. “É um amendoim totalmente rastreado para exportação. Lógico que tem o mercado brasileiro, mas é uma fatia”, afirma.
Preparo da terra para plantio do amendoim na região de Jaboticabal, SP
Divulgação/Coplana
Acostumado a encarar desafios como alta nos custos de produção, cenários de instabilidade econômica e incertezas climáticas, o agricultor espera poder passar para os filhos o amor por aquilo que faz.
“A cultura do amendoim é muito desafiadora, é totalmente dependente de uma lavoura de milho, de soja, de cana. Pra ser produtor de amendoim tem que gostar. É uma cultura realmente difícil de lidar. Tem hora que falta chuva na colheita, mas muita chuva é complicado”, exemplifica.
Para ele, além de conhecimento, é preciso saber investir nos insumos certos e ter persistência.
“Tem que gostar de ser produtor pelo fato de que o investimento é muito alto. São máquinas que têm valores muito altos. Acho que é a dificuldade maior, porque se você não tiver máquinas boas hoje, máquinas modernas, você não consegue ficar no ramo.”
Diversificação econômica
Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Mônika Bergamaschi reconhece uma diversificação nas atividades agropecuárias da região desde os anos 2000, por intermédio de culturas como a do amendoim, do café, da laranja, da avicultura, entre outras.
Mas nos últimos anos, ela identifica uma movimentação diferente da observada antes. Com o fim da colheita manual da cana-de-açúcar, segundo a engenheira agrônoma, isso pode estar acontecendo, em parte, também em propriedades onde a mecanização não foi possível.
“Uma mudança extraordinária nesses últimos dois ou três anos. A gente começa também a ter uma percepção diferente. Aparecem alguns vinhedos, o pessoal plantando uva, fazendo vinho ou cultivando outros produtos, frutas um pouco diferentes, especiais, é muito interessante”, comenta.
Cultivo da cana de açúcar é predominante na região de Ribeirão Preto, mas
Érico Andrade/G1
Para o economista e professor da USP Luciano Nakabashi, a profusão de novas atividades agropecuárias é positiva e pode estar associada aos desafios enfrentados pelo setor sucroenergético na última década, marcada por oscilação nos preços e na demanda do mercado internacional, que em diferentes momentos colocaram em dúvida a viabilidade econômica da cana.
“Se a gente tiver uma diversificação em termos da agropecuária na nossa região, isso é positivo. Porque se fica menos dependente e quando se tem um choque em um determinado setor, tem outros setores que acabam compensando”, analisa.
Tecnologia e conhecimento
Ao passo que novas culturas prosperam, a geração de conhecimento e inovação também se multiplica na região de Ribeirão Preto e Franca, já conhecida por sediar há quase três décadas uma das maiores feiras de tecnologia agrícola do mundo, a Agrishow.
Pulverizadores expostos na Agrishow 2019 ajudam produtores a reduzir custos com agrotóxicos e impacto no meio ambiente
Érico Andrade/G1
Esse movimento pode ser observado tanto em equipamentos quanto em gestão de dados, avalia o consultor em agronegócio José Carlos de Lima Júnior.
“Temos muitas coisas que são realizadas na região de Ribeirão Preto que acabam implementando o mercado, por exemplo: a estimativa de safra da laranja, que é um dado aceito pelo FDA [Food and Drug Administration], dos EUA, e faz uma movimentação violenta do mercado de commodities de laranja, é realizada por uma empresa sediada em Ribeirão Preto”, analisa.
“Além disso, você tem cursos de pós-graduação que começam a ser ministrados principalmente aqui. Acho importante essas duas visões: a do conhecimento técnico e a do conhecimento de gestão”, complementa.
Produção da lavoura é controlada na palma da mão do agricultor
Érico Andrade/G1
Mônika Bergamaschi também reconhece o impulso de universidades, escritórios da Embrapa e da iniciativa privada, de uma forma que não necessariamente atrai somente pessoas com formação voltada para a agropecuária.
“Muita gente que nada tem a ver com o setor, não tem formação em ciências agrárias, não tem uma relação. O cara é físico, é da área de computação, da área de matemática, e desenvolve softwares muito interessantes também, seja na parte de gestão, seja em outras coisas que trazem informações importantes para o setor”, diz.
Para quem lida diariamente com o trabalho no campo, o incremento tecnológico é determinante para as condições de trabalho e para o ganho de qualidade do produto.
Se lá atrás, nas lavouras de Cláudio Gladenucci, a introdução de secadores agilizou a colheita de amendoins e reduziu perdas, hoje, a possibilidade de controlar plantações com um GPS, por exemplo, representa atuar no campo mesmo em condições adversas.
“O amendoim é uma cultura que se dá por baixo da terra. Se as ruas se fecham, fica bem dificultoso visualmente para o operador. É muito difícil realmente, às vezes as condições climáticas atrapalham, então o GPS tem ajudado muito, porque você faz o plantio com o GPS e depois ele indica o melhor caminho para o operador, para evitar que ele se perca”, diz.
Para Mônika, a modernização no campo está apenas começando e deve abrir muitas portas para quem quer se aventurar. “É um mundo de possibilidades. E o que é bacana? É que tem espaço pra todo mundo.”
Áreas de cultivo de milho dão perspectiva de novidades aos produtores rurais
Érico Andrade/G1
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Igor do Vale/ Divulgação Café Minamihara
A vocação histórica da região de Ribeirão Preto (SP) para a cana-de-açúcar é facilmente evidenciada em números: 17% da matéria-prima processada no Centro-Sul do país sai daqui. Como consequência, essa parte do interior paulista também responde sozinha por 22% do açúcar e por 14% do etanol produzidos, segundo dados de 2021 da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).
Mas entre 1,4 milhão de hectares de canaviais espalhados pela já chamada “capital do agronegócio” e seu entorno, novas culturas começam a fertilizar diferentes vocações no campo, algumas delas até então inimagináveis, principalmente nos últimos dez anos.
Videiras de Cabernet Sauvignon e Barolo, cafezais selecionados de Arábica, plantações de lúpulo, produção de queijos orgânicos e criação de gado de corte de alto valor agregado encontram espaço nessa nova configuração agropecuária da região, gerando empregos, impulsionando tecnologias, conhecimentos e novos espaços de atuação profissional.
Ao mesmo tempo, outras culturas como o amendoim se consolidam ainda mais no cenário nacional. Na região de Jaboticabal (SP), a produção corresponde a 37% de toda a leguminosa que foi exportada pelo país em 2021, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
“Você tem a região de Ribeirão Preto com algumas características específicas de produção, como é o caso de cana-de-açúcar, mas também tem amendoim. A região é a maior exportadora de amendoim no Brasil. Outra coisa extremamente importante é que a região de certa forma acabou apresentando uma certa diversificação nos últimos tempos quando você começa a ver a inclusão de outras culturas”, analisa o consultor em agronegócio José Carlos de Lima Júnior.
Esta reportagem é uma das produções especiais que marcam os 10 anos do g1 EPTV, que cobre 317 cidades no interior de São Paulo e no Sul de Minas Gerais. Em 10 de fevereiro de 2012, o portal de notícias da Globo iniciava suas atividades com as afiliadas da emissora em Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), São Carlos (SP) e Varginha (MG).
Produtores do Café Minamihara, em Cristais Paulista (SP)
Igor do Vale/Divulgação Café Minamihara
Cafés especiais à sombra de abacateiros
Anderson Minamihara tem 34 anos e está na quarta geração de uma família de imigrantes japoneses que começou a plantar café no Paraná, mas que se mudou para o interior de São Paulo nos anos 1970 depois de uma geada que dizimou plantações no Sul em 1965.
Foi no município de Cristais Paulista (SP), às margens da Rodovia Cândido Portinari (SP-334), que o pai dele, Getulio Minamihara, recomeçou o plantio ainda de forma convencional. Gradativamente, ao longo dos anos, o cafeicultor foi estabelecendo princípios que, desde 2016, o tornam uma referência em cafés especiais na Alta Mogiana, região já conhecida por sua cultura cafeeira tradicional.
A fazenda é uma das dez produtoras de cafés especiais certificadas na Alta Mogiana, que abrange 15 municípios na região de Franca (SP), segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).
“A região é propícia, porque tem uma boa altitude. Acima de 900 metros para o café arábica já é [uma altitude] boa para ter qualidade. A região da Alta Mogiana é uma das mais antigas que ainda produzem café no Brasil. A qualidade daqui é bem conhecida”, afirma Anderson, que é diretor comercial da empresa.
Apenas frutos maduros são utilizados na produção de café especial em Cristais Paulista, SP
Igor do Vale/ Divulgação Café Minamihara
Ainda nos anos 1990, os Minamihara abandonaram o uso de defensivos e começaram a criar um terroir próprio. Inspirados nos pés de café que crescem naturalmente nas florestas da Etiópia, eles cultivaram mudas sob abacateiros.
“Logicamente que existem vários avanços técnicos de modificação genética de variedades que fazem com que a gente tenha plantas que funcionem muito bem a pleno sol, mas naturalmente o café é uma planta sombreada e aqui na Minamihara mais da metade da nossa produção é sombreada, o que é uma coisa super rara no Brasil”, afirma Martha Grill, gerente operacional da marca e campeã brasileira de barismo.
Cuidados únicos na colheita, que por vezes acontece à noite e em diferentes estações da lua como forma de modificar as características da bebida, atenção redobrada à seleção de grãos, sempre maduros, e a torra controlada consolidam um café que já chegou a receber nota 90, em uma escala que vai até 100, e a ganhar prêmios em eventos como o Cup of Excellence.
“É como se fosse uma microrregião dentro da Alta Mogiana, porque aqui dentro esse ambiente orgânico e sombreado, é muito mais úmido, com muito mais matéria orgânica para as bactérias e leveduras crescerem. A gente acaba criando um terroir específico, que aliado ao terroir da Alta Mogiana, que é excelente para produção de cafés de qualidade, fazem com que o café Minamihara seja reconhecido nacional e internacionalmente”, afirma Martha.
Produção de café especial em fazenda na zona rural de Franca, SP
Igor do Vale
A pontuação mais alta foi alcançada pela empresa com o catucaí-açu, uma das mais de 50 variedades produzidas em 500 mil pés plantados em aproximadamente 100 hectares. Seus grãos são comercializados, em média, a partir de R$ 180 o quilo, em sua grande maioria para o exterior, sobretudo para Europa, Japão e Estados Unidos.
No Brasil, o café somente é vendido pela internet e em cafeterias e restaurantes selecionados.
A recente alta no preço do produto convencional e um maior interesse pelas bebidas especiais são oportunidades para ampliar esse escopo no mercado interno, avalia Anderson Minamihara, que vê o segmento crescer principalmente na procura.
“Hoje em dia a gente vende sacas de cafés especiais de café torrado para todo o Brasil. A gente manda para o Espírito Santo, Amazonas, Pará. Em 2016, 2017, a maioria dos nossos clientes era do Sudeste e do Sul”, diz.
Nos planos da empresa estão ações de marketing, visitações guiadas para degustação na propriedade rural, além do lançamento de um café especial de entrada para ser vendido nos supermercados. Para 2022, a expectativa é bater a marca de 120 sacas direcionadas para o mercado interno.
“O mix de produto aqui no Brasil ainda é pequeno, por isso a gente quer montar essa experiência de consumo inteira para o cliente conseguir enxergar um valor maior do nosso produto”, afirma Anderson.
Cafezal florido dos Minamihara em fazenda na zona rural de Franca, SP
Igor do Vale
Sangiovese, barolo e cabernet na Alta Mogiana
Café, algodão e cana-de-açúcar estão na história de trabalho da família de Luís Roberto di San Martino Lorenzato di Ivrea, mas desde 2009 o descendente de italianos decidiu plantar em Ituverava (SP) mudas de uvas dos seus vinhos favoritos na Itália, da Sangiovese, matéria-prima do famoso Brunello de Montalcino, a Barolo e Nebbiolo.
“Foi por um acaso que descobri uma propriedade em que a amplitude térmica no inverno é muito alta, noites frias, dias quentes, além de ser muito seco. E cheguei à conclusão que daria para plantar uvas de vinho”, lembra.
Depois de encarar descrença e dificuldade em encontrar mão de obra qualificada, o empresário se orgulha de ter recriado um pedacinho da “Bota” em meio à Alta Mogiana, inaugurando uma vocação agrícola antes inimaginável na região e que começa a ganhar novos adeptos.
O empresário Luís Roberto di San Martino Lorenzato di Ivrea mostra uvas para a produção de vinhos em Ituverava, SP
Arquivo pessoal
As videiras da Vinícola Marchese di Ivrea produzem 60 toneladas de uva e 40 mil litros de vinho por ano, de tintos a espumantes que servem restaurantes em São Paulo, Ribeirão Preto, Uberlândia (MG) e Brasília (DF), clientes da Suíça e dos Estados Unidos, e principalmente os milhares de turistas que já passaram pela propriedade no interior de São Paulo.
Lá, eles conhecem a produção e degustam dez rótulos de vinhos, além de grappas – bebidas destiladas produzidas a partir da fermentação do bagaço da uva -, em harmonização com queijos.
Para deixar a experiência mais atrativa e ligada às origens italianas dos donos, a vinícola também serve um almoço com um dos pratos mais tradicionais da Toscana, a bistecca alla Fiorentina.
“Abrimos a vinícola aos sábados para uma experiência totalmente de imersão no mundo dos vinhos. O turista vem até a vinícola, conhece vinhedos, conhece as plantas, entende a posição dos galhos, como é feita a poda, como é feita a irrigação. Depois a gente vai para a fábrica, vê o passo a passo da industrialização, depois vamos à sala onde é feita a degustação”, explica.
As videiras cultivadas desde 2016 na vinícola Marchese di Ivrea em Ituverava, SP
Arquivo pessoal
A cerca de 70 quilômetros dali, em Franca (SP), os vitivinicultores Maurício Orlov, de 55 anos, e Fernando Bizanha, de 58, apostaram no plantio de mudas trazidas da França para iniciar a produção de vinhos com uvas cabernet sauvignon, cabernet franc e syrah.
Os produtores rurais tinham em mente que as características climáticas da região, as mesmas que favorecem os cafés, poderiam também cair bem para os vinhos finos.
“A ideia surgiu em 1994, quando tivemos um inverno intenso e passou pela minha cabeça que talvez se pudesse fazer vinhos de qualidade em Franca e foi levada adiante a partir de 2012, quando se iniciou a busca por conhecimento técnico a respeito da viticultura em nossa região”, explica Orlov.
Uvas cabernet sauvignon, cabernet franc e syrah são cultivadas em Franca, SP, desde 2016 para produção de vinhos
Arquivo pessoal
A aposta não só deu certo como o retorno na lavoura superou as expectativas. “Esperávamos a primeira colheita após três anos de plantio, porém tivemos a grata surpresa em colher já no segundo ano frutos com alta qualidade”, conta o produtor.
Em parceria com vinícolas parceiras, para viabilizar a vinificação, em 2018 a Arcano levou ao mercado sua primeira safra com um total de 234 garrafas. Com um total de 15,5 toneladas de uvas colhidas, três anos depois já eram 12 mil garrafas, destinadas a restaurantes e empórios da região.
Em 2022, a expectativa é de que esses números se elevem ainda mais, com 20 mil garrafas para uma produção de 25 toneladas da fruta. Além disso, os empresários planejam promover visitações para difundir ainda mais a cultura do vinho no interior de São Paulo.
Em 2022, Arcano espera produzir 20 mil garrafas com 25 toneladas de uvas em Franca, SP
Arquivo pessoal
“Nosso propósito sempre foi de fazer o melhor possível e continua sendo desta maneira. O terroir da Alta Mogiana era inédito para produção de vinhos finos, porém tinha e tem todas as características para fazermos um vinho de destaque”, diz.
Aos olhos de quem viu esse movimento começar, potencial para o vinho a região tem de sobra. “Com certeza essas famílias que estão agora entrando na vitivinicultura darão lustro ao vinho paulista, ao vinho brasileiro. Nós vamos somar ao excelente trabalho que já tem sido feito nos outros estados”, afirma Lorenzato di Ivrea.
Na região da Alta Mogiana, em Franca, SP, produtores cultivam uvas para vinhos especiais
Arquivo pessoal
Lúpulo da região para o Brasil
A mesma vontade de fazer o que antes parecia improvável mobilizou uma agritech de Ribeirão Preto a firmar uma parceria com a Ambev para o cultivo local de lúpulo. Desde o final de 2021, a Silver Hops e a gigante de bebidas trabalham com nove variedades da planta em uma fazenda com o intuito de analisar a adaptação em solo brasileiro.
A expectativa inicial é de que o cultivo chegue a 5 hectares e produza em Ribeirão Preto , ainda em 2022, os primeiros 500 quilos do insumo para a produção de bebidas da multinacional Brasil afora. O projeto deve incorporar um volume total de 10 toneladas no primeiro ano contabilizando outros parceiros no país.
A matéria-prima inicialmente deve servir exclusivamente para a produção de cervejas da Ambev.
“Vai depender de como vai ser a questão da colheita, quantidade e produtividade pra conseguir entender quais cervejas serão feitas”, explica Laura Aguiar, head de conhecimento e cultura cervejeira da empresa.
Plantação de lúpulo já começa a dar resultados em fazenda na zona rural de Ribeirão Preto, SP
Divulgação
Básico na composição da cerveja, o ingrediente utilizado no Brasil ainda é predominantemente importado, embora esteja em crescimento no território nacional. Encontrado na Europa e na América do Norte, o lúpulo se desenvolve geralmente em ambientes com temperaturas amenas, com alta incidência de luz solar e em condições de umidade do solo específicas.
Em uma primeira avaliação, Ribeirão Preto tem pontos a favor e contra a serem trabalhados no manejo.
“A maior dificuldade é conseguir unir essas duas coisas e uma umidade de solo adequada. No país existem regiões com temperatura mais baixa, mas que não têm alta incidência de luz. Em Ribeirão Preto, a gente tem uma temperatura um pouco mais alta, mas com alta incidência de luz. Então tem fatores mais e menos positivos”, diz.
Cultivo de lúpulo em Ribeirão Preto, SP, usa técnica que pode contribuir para otimizar as características ideais do solo
Divulgação
De acordo com Laura Aguiar, as novas tecnologias permitem, por exemplo, que a interação do lúpulo com o calor seja analisada por meio de um processo chamado de espectroscopia. Além disso, é possível criar e controlar à distância uma iluminação especial para o cultivo, bem como utilizar a fertirrigação, técnica que pode contribuir para otimizar as características ideais do solo.
“Existe uma série de tecnologias que podem ser aplicadas e que vão ajudar a compensar essas características do clima diferente aqui no Brasil.”
Segundo Laura, ainda não é possível apontar que características esse lúpulo vai conferir às cervejas nem de que forma isso vai impactar nos custos de produção, mas reconhece que iniciativas como essa são um passo importante para que o Brasil conquiste independência com relação a outros países, além de uma maior identidade em suas bebidas.
“Uma coisa que a gente observa com aprendizados de outras regiões do mundo que plantam lúpulo é que a característica específica dele depende não só do clima, mas do manejo, de como esse lúpulo é plantado. A gente ainda não tem certeza quanto a qual característica o lúpulo de São Paulo vai ter, mas sabe que o manejo interfere e provavelmente a gente consiga ter um terroir diferente”, afirma.
A flor do lúpulo cultivado em Ribeirão Preto, SP, para produção de cervejas
Divulgação
Queijos orgânicos com sotaque italiano
Seja para amantes do café, seja para os apaixonados pelo vinho ou pela cerveja, uma fazenda de Cássia dos Coqueiros (SP) promete oferecer a combinação ideal com uma produção de queijos orgânicos de alta qualidade em um processo sustentável.
Baseado na experiência que concretizou na Toscana desde os anos 1980, o italiano Piero Alberti, de 57 anos, se mudou em 2014 para o Brasil, onde implantou um cuidadosa prática que vai desde o alimento das vacas e a ordenha até a maturação dos diferentes derivados na Fazenda Terra Límpida.
“Eu poderia pagar para fazer esse trabalho, mas gosto de por a mão na massa, gosto de ver os animais, de ter contato. Minha esposa tira leite, ela adora as vaquinhas, conhece cada uma delas”, afirma.
Queijos orgânicos produzidos em Cássia dos Coqueiros, SP, por família italiana
Arquivo pessoal
Nessa cadeia produtiva, que foca menos em quantidade e mais em qualidade, 180 vacas rendem 1,4 mil litros de leite por dia e possibilitam a fabricação de 17 variedades de queijos como Frassinella, Ginestrella e Mozzarella, além de creme de leite, doce de leite, iogurte e manteiga.
“Para nós, produtores, claro que em uma economia de escala seria melhor fazer uma coisa só, mas a gente também tem um lado artesanal, artístico, a gente gosta de fazer coisas novas, gosta de desenvolver. (…) A gente está desenvolvendo outros queijos ainda, está trazendo a experiência, a tradição, a cultura dos queijos que temos lá [na Itália] para o Brasil”, diz o produtor rural.
Para ter um produto mais saboroso, a equipe da fazenda tem como princípio básico não utilizar agrotóxicos na propriedade, o que garante traz benefícios à alimentação dos animais. Na hora da ordenha, um sistema computadorizado avalia não só as condições do leite extraído como também da vaca.
“Ela [a vaca] chega na sala de ordenha, onde já se encontra o código dela, todos os dados dela que estão gravados até aquele momento. O operador vai com muito carinho apertar ela e ela vai ser ordenhada. Lá tem um medidor de compatibilidade de leite que analisa o leite na hora, que vai fazer comparação no computador que tem gravado o padrão dela com a relação entre produção e produtividade, que consegue sinalizar de forma imediata se aquela vaca está no padrão de saúde”, explica Alberti.
Produção de queijos em Cássia dos Coqueiros, SP, utiliza leite do gado da raça Jersey
Arquivo pessoal
Esse monitoramento permite indicar problemas de saúde, que preferencialmente são tratados com medicamentos naturais. “Se não é uma coisa ou outra, significa que pode ser que ela esteja no início de uma inflamação no úbere [excesso de fluído na glândula mamária], então a gente entra com homeopatia, com remédios fitoterápicos.”
O produtor explica também que a escolha dos animais, da raça Jersey, faz toda a diferença na qualidade da matéria-prima.
“É uma raça pequena, mas é o melhor leite de vaca que dá para encontrar entre as raças de vaca, porque tem características exclusivas. Ela consegue fixar o betacaroteno [pigmento antioxidante natural], então é um leite mais amarelado. Isso significa que está trazendo mais vitamina para quem consome”, afirma.
Vacas leiteiras recebem tratamento especial na hora da ordenha na fazenda Terra Límpida, em Cássia dos Coqueiros, SP
Arquivo pessoal
Os cuidados seguem na maturação dos queijos, que podem levar dias ou até seis meses, a depender da variedade, e é feita em prateleiras de madeira, inox ou fibra, de acordo com a fase e o tipo de queijo.
“O Bucaneve, tipo brie com mofo branco muito delicado, tem uma câmara fria exclusiva. Neste lugar, se desenvolvem os aromas e o cheiro fino desse tipo de queijo, sem contaminação com outros”, acrescenta.
A fazenda mantém suas vendas direcionadas exclusivamente para os clientes de diferentes estados que visitam o interior de São Paulo para conhecer as iguarias italianas da propriedade. A empresa agora estuda expandir seu mercado para restaurantes e empórios, mas sem perder a filosofia de trabalho que a inspirou no início.
“Daqui a um ano eu vou encontrar uma peça de queijo e consigo te dizer quais foram as vacas que deram leite, qual horário, quantos litros cada uma deu, quem tirou o leite, quem processou, de qual forma”, afirma Alberti.
Produção de queijos e doce de leite da fazenda Terra Límpida, em Cássia dos Coqueiros, SP
Arquivo pessoal
Gado de corte: manejo de alto valor agregado
Na propriedade rural do engenheiro agrônomo Rafael Ribeiro Trajano Telles, de 33 anos, em Rifaina (SP), o animal de criação é o touro Senepol, direcionado para um mercado interessado em gado de corte de alto valor agregado.
Originária do cruzamento de raças do Senegal e da Inglaterra nas llhas Virgens Americanas, a espécie foi introduzida no Brasil há cerca de 20 anos e tem atraído cada vez mais criadores, inclusive na região, por características como rápido crescimento, fácil adaptação, inclusive ao calor, docilidade no manejo, alta resistência a moscas e longevidade.
“Outra grande vantagem é conseguir colocar uma maior produtividade, um maior peso nos bezerros, nos garrotes, nos bois, assim como nas fêmeas. A cria deles, juntamente com qualquer cruzamento que seja feito, coloca mais peso, e colocando mais peso, isso nos traz uma maior rentabilidade”, afirma.
Fazenda em Rifanina, SP, trabalha manejo de gado da raça Senepol há cerca de dez anos
Senepol da Barra/Divulgação
Da quarta geração de uma família de pecuaristas, Telles conta que, até cerca de dez anos atrás, nunca tinha trabalhado com gado puro de origem, mas, ao fazer os primeiros manejos, notou que atuar com o Senepol seria promissor.
“Usamos o Senepol no cruzamento industrial em vacas Nelore e conseguimos agregar produtividade. Os bezerros nasciam pequenos, ou seja, não tinha problema de parto nas novilhas, a gente conseguia desmamá-los mais pesados e consequentemente criá-los, engordá-los e, assim, conseguir uma maior rentabilidade em menor tempo.”
Somente na Fazenda Senepol da Barra, com 250 hectares, o pecuarista já registrou duas mil cabeças de gado dessa raça. Um trabalho que contou com suporte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para melhoramento genético.
“A gente conta com um centro de avaliação e performance próprio dentro da fazenda que faz todas as avaliações dos animais, para realmente entregar ao mercado somente aquilo que tem de melhor: animais que vão produzir mais, que vão chegar no campo do nosso cliente e vão agregar valor para eles.”
Fazenda em Rifaina, SP, já abrigou duas mil cabeças de gado da raça Senepol desde o início do manejo há cerca de dez anos
Senepol da Barra
Tecnologias como um ultrassom de carcaça auxiliam no diagnóstico de informações relevantes para a comercialização do gado, como espessura de gordura e tamanho de cortes como a picanha. “A gente consegue ver esses animais enquanto eles estão vivos, como eles são.”
Além dos animais, machos e fêmeas, Telles comercializa o material genético em grandes centrais de reprodução e tem como principal público criadores brasileiros voltados para engorda e abate.
“Hoje você é capaz de encontrar a nossa genética em todos os cantos do Brasil. Inclusive alguns dos touros também já têm sêmen exportado”, acrescenta.
Segundo o engenheiro agrônomo, o segmento tem atraído não só criadores da região como de todo o país, e deve crescer nos próximos anos.
“Vamos precisar produzir cada vez mais para atender esse mercado, porque é muito grande. A gente vai precisar de cada vez mais criadores para que consiga atender essa demanda, que está tornando cada vez mais uma pecuária de lucratividade, uma pecuária mais moderna, uma pecuária de resultados.”
Amendoim: de alternativa para solo a produto de exportação
Enquanto queijos, vinhos, gado de corte e cafés especiais ganham espaço, culturas antes consolidadas como a do amendoim adquiriram ainda mais importância na região conhecida pela predominância dos canaviais.
A leguminosa rendeu a Jaboticabal (SP), em 2018, o título de capital do amendoim, dado pelo governo de São Paulo. Fazendo jus a isso, em 2021, ela e mais 13 municípios responderam por 13% de toda a produção paulista, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA), além de 37% das exportações brasileiras, de acordo com a União.
Nesse período, a regional produziu 88 mil toneladas, quase o dobro de dez anos antes, com 48 mil toneladas.
Lavoura de amendoim em Jaboticabal, SP; cultivo na zona rural da cidade se tornou um dos maiores do estado
Arquivo pessoal
Plantado desde os anos 1980 na região de Ribeirão Preto como alternativa para renovar o solo das plantações de cana, o amendoim inicialmente era um incremento de renda para os produtores.
Mas isso começou a mudar nos anos 1990, com a mecanização da colheita e o melhoramento de variedades, que aumentaram a produtividade e tornaram a cultura mais rentável, explica o zootecnista Sérgio de Souza Nakagi, de 46 anos, diretor da Cooperativa Agroindustrial de Jaboticabal (Coplana).
“O profissionalismo da atividade ocorreu no decorrer do tempo, quando a cooperativa, buscando atender os cooperados, investiu em capacitação dos técnicos, melhorou a gestão, forneceu suporte nos insumos, peças, implementos e máquinas, buscou a produção de uma semente certificada, uma marca própria. Desde o campo até a indústria, melhorou os processos de recepção e armazenagem, expandiu novas filiais”, afirma.
O agricultor Claudio Gladenucci expandiu cultivo de amendoim em Jaboticabal, SP
Arquivo pessoal
A partir dos anos 2000, como consequência da busca por certificações e do incremento de tecnologias, o amendoim da região não só ganhou notoriedade nacional como passou a despertar interesse de outros países, que hoje representam 60% das vendas.
Atualmente, a cooperativa com sede em Jaboticabal tem mais de 1,1 mil integrantes que cultivam amendoim em 26 mil hectares, área 36% maior do que a cultivada dez anos antes. Em média, cada um desses hectares rende 200 sacos da leguminosa, o dobro da produtividade de 30 anos atrás.
Somente com exportações, de grão em grão, a região tem movimentado, em média, US$ 100 milhões por ano, principalmente com negócios firmados com Rússia, Argélia e Ucrânia, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
“É um processo contínuo de crescimento e inovação na atividade, juntamente com a sucessão de muitas famílias, em que os filhos passaram a estar à frente dos negócios, optando pela cultura do amendoim, devido à boa remuneração da atividade”, afirma Nakagi.
Cultivo de amendoim se consolidou nos últimos dez anos em Jaboticabal
Gerhard Waller/Esalq
Foi aprendendo com o avô e com o pai que o agricultor Cláudio Aparecido Gladenucci, de 51 anos, entrou para a produção de amendoim. Hoje, ele controla em torno de 800 hectares de plantações da leguminosa em rotação com outras culturas como a soja.
A área é quatro vezes maior do que a do período em que arrendou as terras da família, há 11 anos. Além da fazenda em Jaboticabal, ele precisou buscar lavouras em outros municípios para expandir a produção e atender a demanda crescente.
“Minha produção é regional. A gente pega as áreas de expansão até um raio de 200 km, já estou andando até um pouquinho mais, porque, como a cultura do amendoim cresceu muito, a nossa região está bem disputada”, diz.
Segundo Gladenucci, em torno de 80% do que ele produz é destinado a Europa e Ásia e o restante vai para o mercado interno, sobretudo para fábricas de doces. “É um amendoim totalmente rastreado para exportação. Lógico que tem o mercado brasileiro, mas é uma fatia”, afirma.
Preparo da terra para plantio do amendoim na região de Jaboticabal, SP
Divulgação/Coplana
Acostumado a encarar desafios como alta nos custos de produção, cenários de instabilidade econômica e incertezas climáticas, o agricultor espera poder passar para os filhos o amor por aquilo que faz.
“A cultura do amendoim é muito desafiadora, é totalmente dependente de uma lavoura de milho, de soja, de cana. Pra ser produtor de amendoim tem que gostar. É uma cultura realmente difícil de lidar. Tem hora que falta chuva na colheita, mas muita chuva é complicado”, exemplifica.
Para ele, além de conhecimento, é preciso saber investir nos insumos certos e ter persistência.
“Tem que gostar de ser produtor pelo fato de que o investimento é muito alto. São máquinas que têm valores muito altos. Acho que é a dificuldade maior, porque se você não tiver máquinas boas hoje, máquinas modernas, você não consegue ficar no ramo.”
Diversificação econômica
Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Mônika Bergamaschi reconhece uma diversificação nas atividades agropecuárias da região desde os anos 2000, por intermédio de culturas como a do amendoim, do café, da laranja, da avicultura, entre outras.
Mas nos últimos anos, ela identifica uma movimentação diferente da observada antes. Com o fim da colheita manual da cana-de-açúcar, segundo a engenheira agrônoma, isso pode estar acontecendo, em parte, também em propriedades onde a mecanização não foi possível.
“Uma mudança extraordinária nesses últimos dois ou três anos. A gente começa também a ter uma percepção diferente. Aparecem alguns vinhedos, o pessoal plantando uva, fazendo vinho ou cultivando outros produtos, frutas um pouco diferentes, especiais, é muito interessante”, comenta.
Cultivo da cana de açúcar é predominante na região de Ribeirão Preto, mas
Érico Andrade/G1
Para o economista e professor da USP Luciano Nakabashi, a profusão de novas atividades agropecuárias é positiva e pode estar associada aos desafios enfrentados pelo setor sucroenergético na última década, marcada por oscilação nos preços e na demanda do mercado internacional, que em diferentes momentos colocaram em dúvida a viabilidade econômica da cana.
“Se a gente tiver uma diversificação em termos da agropecuária na nossa região, isso é positivo. Porque se fica menos dependente e quando se tem um choque em um determinado setor, tem outros setores que acabam compensando”, analisa.
Tecnologia e conhecimento
Ao passo que novas culturas prosperam, a geração de conhecimento e inovação também se multiplica na região de Ribeirão Preto e Franca, já conhecida por sediar há quase três décadas uma das maiores feiras de tecnologia agrícola do mundo, a Agrishow.
Pulverizadores expostos na Agrishow 2019 ajudam produtores a reduzir custos com agrotóxicos e impacto no meio ambiente
Érico Andrade/G1
Esse movimento pode ser observado tanto em equipamentos quanto em gestão de dados, avalia o consultor em agronegócio José Carlos de Lima Júnior.
“Temos muitas coisas que são realizadas na região de Ribeirão Preto que acabam implementando o mercado, por exemplo: a estimativa de safra da laranja, que é um dado aceito pelo FDA [Food and Drug Administration], dos EUA, e faz uma movimentação violenta do mercado de commodities de laranja, é realizada por uma empresa sediada em Ribeirão Preto”, analisa.
“Além disso, você tem cursos de pós-graduação que começam a ser ministrados principalmente aqui. Acho importante essas duas visões: a do conhecimento técnico e a do conhecimento de gestão”, complementa.
Produção da lavoura é controlada na palma da mão do agricultor
Érico Andrade/G1
Mônika Bergamaschi também reconhece o impulso de universidades, escritórios da Embrapa e da iniciativa privada, de uma forma que não necessariamente atrai somente pessoas com formação voltada para a agropecuária.
“Muita gente que nada tem a ver com o setor, não tem formação em ciências agrárias, não tem uma relação. O cara é físico, é da área de computação, da área de matemática, e desenvolve softwares muito interessantes também, seja na parte de gestão, seja em outras coisas que trazem informações importantes para o setor”, diz.
Para quem lida diariamente com o trabalho no campo, o incremento tecnológico é determinante para as condições de trabalho e para o ganho de qualidade do produto.
Se lá atrás, nas lavouras de Cláudio Gladenucci, a introdução de secadores agilizou a colheita de amendoins e reduziu perdas, hoje, a possibilidade de controlar plantações com um GPS, por exemplo, representa atuar no campo mesmo em condições adversas.
“O amendoim é uma cultura que se dá por baixo da terra. Se as ruas se fecham, fica bem dificultoso visualmente para o operador. É muito difícil realmente, às vezes as condições climáticas atrapalham, então o GPS tem ajudado muito, porque você faz o plantio com o GPS e depois ele indica o melhor caminho para o operador, para evitar que ele se perca”, diz.
Para Mônika, a modernização no campo está apenas começando e deve abrir muitas portas para quem quer se aventurar. “É um mundo de possibilidades. E o que é bacana? É que tem espaço pra todo mundo.”
Áreas de cultivo de milho dão perspectiva de novidades aos produtores rurais
Érico Andrade/G1
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