Choque de culturas: índios venezuelanos warao desafiam políticas públicas de acolhimento em Ribeirão Pretoon julho 24, 2022 at 10:00 am
- julho 24, 2022 Imigrantes começaram a chegar à cidade em 2021, mas costumes diferentes e dialeto dificultam inclusão, afirmam ONG e prefeitura. ONU estima que cerca de sete mil tenham fugido da crise na Venezuela. Prefeitura de Ribeirão Preto cria política de atenção para cuidar de refugiados
Em uma casa antiga na região central de Ribeirão Preto (SP), 30 índios venezuelanos da etnia warao estão abrigados há pelo menos três meses. São homens, mulheres e crianças que deixaram o país de origem por causa da crise social e humanitária causada pelo regime ditatorial de Nicolas Maduro.
Mais 40 índios dividem outra casa na mesma região. Os custos com a moradia são mantidos pelo Instituto Ampare, uma instituição que apoia refugiados, mas as despesas com alimentação, água e energia, por exemplo, devem ser custeadas pelos próprios moradores, como explica o voluntário Carlos Alberto da Cruz.
“A sociedade civil ajuda com alguma coisa de aluguel, de luz, de energia. Na semana passada, fizemos uma campanha específica para alimentos. Já fizemos campanhas para roupas de frio, cobertores. A gente vai articulando junto da sociedade civil. Mas, dos recursos, hoje são escassos. Estamos com a corda no pescoço.”
As condições das habitações, no entanto, são precárias. Na casa onde vive o grupo de 30 índios, todos estão amontoados nos cinco quartos. Há dois banheiros, mas um deles está sem energia elétrica. Faltam higiene e organização.
O dinheiro que os índios conseguem é proveniente do pedido de esmolas feito exclusivamente por mulheres e crianças na região da baixada, próximo ao terminal rodoviário de Ribeirão Preto. Nos cruzamentos, elas estendem potes coloridos para receber trocados dos motoristas.
Em abril, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) estimou que cerca de sete mil indígenas venezuelanos estavam no território brasileiro, sendo que 819 tinham sido reconhecidos como refugiados pelo governo federal.
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Estudo faz diagnóstico sobre o trabalho dos indígenas Warao em Belém
Índios venezuelanos da etnia warao moram em casa superlotada em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
Quando começaram a chegar a Ribeirão Preto em 2021, vindos do Norte do país, os warao foram levados à Central de Triagem e Encaminhamento ao Migrante/Itinerante e Morador de Rua (Cetrem) e a outros abrigos da cidade.
Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, os locais são áreas transitórias, onde as pessoas recebem alimentação, higiene, lugar para dormir e suporte até que sejam reinseridas socialmente.
Mas, no caso dos warao, o choque cultural criou um impasse no acolhimento. Os índios não falam espanhol, português ou inglês; a comunicação é feita por um dialeto. A alimentação é baseada em tapioca, frango, peixe e macarrão. As crianças não vão à escola. Nos abrigos, por regra, homens e mulheres devem ficar separados.
“Eles estavam lá no abrigo, mas a cultura deles é totalmente diferente. Tem dois problemas: primeiro é a alimentação deles, que é totalmente diferente da alimentação que o abrigo oferece; em segundo lugar, lá no abrigo é todo mundo separado, homens, de mulheres e crianças. Pela cultura deles, eles devem ficar todos juntos. É uma cultura milenar. Não dá pra forçar uma mudança tão radical”, diz Carlos Alberto.
Índios venezuelanos da etnia warao moram em casa superlotada em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
Em busca de ajudar os refugiados, o Instituto Ampare, em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), solicitou providências ao Ministério Público (MP). O pedido principal é para que eles sejam abrigados em um espaço com melhores condições.
Carlos Alberto entende que mudanças culturais não ocorrem da noite para o dia, mas diz que a instituição já conseguiu avanços.
“Estão sendo feitas coisas no sentido deles se adaptarem às leis do Brasil, aos processos e aos costumes. Por exemplo, eles estão fazendo tratamento dentário em um projeto da USP que está cuidando das crianças. Duas crianças já nasceram aqui, as mães fizeram pré-natal. Já é uma adaptação deles à cultura brasileira. Vacinação das crianças foi uma luta até fazer eles conseguirem entender que isso é importante. Lá na região deles, eles não vacinavam, mas eles estavam seguros. Mas aqui, junto com a população, junto com as pessoas do Brasil, é muito importante vacinar.”
Índia venezuelana da etnia warao pede esmolas em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
Inclusão
O secretário de Justiça de Ribeirão Preto, Alessandro Hirata, reconhece as dificuldades do poder público, mas diz que a prefeitura trabalha para tentar ajudar o grupo principalmente a conquistar autonomia sem deixar de lado as raízes.
“É muito importante que seja respeitada essa cultura da etnia ao warao, mas também de todos aqueles que chegam até nós. A gente procura ter esse equilíbrio de respeitar essa cultura e de reintegrá-los, porque o que é buscado é que eles tenham essa autonomia. O objetivo é que eles possam, eles mesmos, receberem, por exemplo, auxílio do governo. Com isso, alguns já pagam aluguéis, já têm possibilidade de seu sustento.”
Hirata afirma que os warao têm um comportamento migratório natural, o que também pode impedir o avanço do trabalho desenvolvido em Ribeirão Preto.
“Eles não falam nem o espanhol, na verdade têm um dialeto próprio e eles precisam, ter um conhecimento da nossa língua. Por exemplo, as escolas. A gente tem essa obrigatoriedade de escolaridade para as crianças. Isso não faz parte da tradição deles, então isso precisa ser equilibrado, ou seja, para aqueles que vão ficar aqui em Ribeirão, para que eles sejam integrados à sociedade.”
Sobre o pedido de um lugar onde os índios possam ser abrigados, Hirata diz que os atuais espaços da Secretaria de Assistência Social estão abertos ao atendimento, mas que no momento não é possível dedicar um prédio com exclusividade.
Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca
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:Imigrantes começaram a chegar à cidade em 2021, mas costumes diferentes e dialeto dificultam inclusão, afirmam ONG e prefeitura. ONU estima que cerca de sete mil tenham fugido da crise na Venezuela. Prefeitura de Ribeirão Preto cria política de atenção para cuidar de refugiados
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Mais 40 índios dividem outra casa na mesma região. Os custos com a moradia são mantidos pelo Instituto Ampare, uma instituição que apoia refugiados, mas as despesas com alimentação, água e energia, por exemplo, devem ser custeadas pelos próprios moradores, como explica o voluntário Carlos Alberto da Cruz.
“A sociedade civil ajuda com alguma coisa de aluguel, de luz, de energia. Na semana passada, fizemos uma campanha específica para alimentos. Já fizemos campanhas para roupas de frio, cobertores. A gente vai articulando junto da sociedade civil. Mas, dos recursos, hoje são escassos. Estamos com a corda no pescoço.”
As condições das habitações, no entanto, são precárias. Na casa onde vive o grupo de 30 índios, todos estão amontoados nos cinco quartos. Há dois banheiros, mas um deles está sem energia elétrica. Faltam higiene e organização.
O dinheiro que os índios conseguem é proveniente do pedido de esmolas feito exclusivamente por mulheres e crianças na região da baixada, próximo ao terminal rodoviário de Ribeirão Preto. Nos cruzamentos, elas estendem potes coloridos para receber trocados dos motoristas.
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Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, os locais são áreas transitórias, onde as pessoas recebem alimentação, higiene, lugar para dormir e suporte até que sejam reinseridas socialmente.
Mas, no caso dos warao, o choque cultural criou um impasse no acolhimento. Os índios não falam espanhol, português ou inglês; a comunicação é feita por um dialeto. A alimentação é baseada em tapioca, frango, peixe e macarrão. As crianças não vão à escola. Nos abrigos, por regra, homens e mulheres devem ficar separados.
“Eles estavam lá no abrigo, mas a cultura deles é totalmente diferente. Tem dois problemas: primeiro é a alimentação deles, que é totalmente diferente da alimentação que o abrigo oferece; em segundo lugar, lá no abrigo é todo mundo separado, homens, de mulheres e crianças. Pela cultura deles, eles devem ficar todos juntos. É uma cultura milenar. Não dá pra forçar uma mudança tão radical”, diz Carlos Alberto.
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Reprodução/EPTV
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Carlos Alberto entende que mudanças culturais não ocorrem da noite para o dia, mas diz que a instituição já conseguiu avanços.
“Estão sendo feitas coisas no sentido deles se adaptarem às leis do Brasil, aos processos e aos costumes. Por exemplo, eles estão fazendo tratamento dentário em um projeto da USP que está cuidando das crianças. Duas crianças já nasceram aqui, as mães fizeram pré-natal. Já é uma adaptação deles à cultura brasileira. Vacinação das crianças foi uma luta até fazer eles conseguirem entender que isso é importante. Lá na região deles, eles não vacinavam, mas eles estavam seguros. Mas aqui, junto com a população, junto com as pessoas do Brasil, é muito importante vacinar.”
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Inclusão
O secretário de Justiça de Ribeirão Preto, Alessandro Hirata, reconhece as dificuldades do poder público, mas diz que a prefeitura trabalha para tentar ajudar o grupo principalmente a conquistar autonomia sem deixar de lado as raízes.
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Hirata afirma que os warao têm um comportamento migratório natural, o que também pode impedir o avanço do trabalho desenvolvido em Ribeirão Preto.
“Eles não falam nem o espanhol, na verdade têm um dialeto próprio e eles precisam, ter um conhecimento da nossa língua. Por exemplo, as escolas. A gente tem essa obrigatoriedade de escolaridade para as crianças. Isso não faz parte da tradição deles, então isso precisa ser equilibrado, ou seja, para aqueles que vão ficar aqui em Ribeirão, para que eles sejam integrados à sociedade.”
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