
Capital do chope? Tradição cervejeira em Ribeirão Preto, SP, é transformada com mercado de bebidas artesanaison fevereiro 10, 2022 at 12:30 pm
- fevereiro 10, 2022 Vocação iniciada por imigrantes europeus e impulsionada por grandes indústrias no passado é recriada por crescente movimento de produtores artesanais, que buscam selo de indicação geográfica inédito. Veja transformação da cultura cervejeira em Ribeirão Preto nos últimos 10 anos
O calor, um bar como ponto turístico quase obrigatório e um sabor inconfundível. Poucas cidades do país despertam de maneira tão espontânea uma vontade de beber cerveja diante da possibilidade de visitá-la. É quase uma constante a associação entre a paixão nacional e Ribeirão Preto (SP), um dia chamada de capital do chope.
Verdade seja dita, seria injusto a cidade paulista sustentar sozinha um título como esse diante da infinidade de cervejarias país afora.
Mas é inegável que, em meio a uma tradição que não se apaga e iniciativas que vão além da Pilsen, rumo às artesanais premiadas internacionalmente, o município se destaca como um dos grandes polos cervejeiros do Brasil, com uma variedade de estilos que atualmente se consolidam em cerca de 130 rótulos, segundo especialistas do setor.
Além de ter sido indicada em 2021 por uma plataforma especializada em viagens como o melhor destino para se degustar cervejas no mundo, Ribeirão Preto é uma das dez cidades mencionadas no Anuário da Cerveja, do Ministério da Agricultura, com crescimento de 75% em número de empresas.
Tradição do chope e novidade da cerveja artesanal se fundem em Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Recentemente, a cidade ganhou, junto ao governo de São Paulo, a aprovação de um arranjo produtivo local (APL) de cervejarias e busca se tornar “capital da cerveja artesanal” por meio do registro de um selo de indicação geográfica ainda inédito no país. Representantes do setor também se organizam para construir, em 2023, um museu temático para difundir conhecimento e estimular ainda mais o turismo em torno dessa vocação econômica.
“Dentro de uma garrafa ou de um copo, aquele líquido traz uma história secular que relata a formação da nossa sociedade, a evolução do turismo, da hotelaria e dos serviços. A importância nesse resgate através da história e cultura cervejeira nos eterniza e nos engrandece como sociedade “, afirma Paulo Garcia de Almeida, diretor da Associação do Museu da Cerveja de Ribeirão Preto e pesquisador de ciência e história da cerveja.
Esta reportagem é uma das produções especiais que marcam os 10 anos do g1 EPTV, que cobre 317 cidades no interior de São Paulo e no Sul de Minas Gerais. Em 10 de fevereiro de 2012, o portal de notícias da Globo iniciava suas atividades com as afiliadas da emissora em Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), São Carlos (SP) e Varginha (MG).
À direita, fachada da Cervejaria A Rapaziada, fundada por imigrantes europeus em Ribeirão Preto no final do século 19
Associação Museu da Cerveja de Ribeirão Preto/Acervo
Os europeus e as pequenas fábricas
Há cerca de 150 anos, foram imigrantes europeus os responsáveis por iniciar a produção artesanal de cerveja e em pequena escala em Ribeirão Preto, em um cenário de crescimento urbano impulsionado pela cultura do café e pela conexão com ferrovias, por meio da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação.
Além disso, contavam a favor a disponibilidade de água diretamente extraída do Aquífero Guarani, um dos maiores mananciais subterrâneos do mundo, e o clima quente, que servia como convite para a bebida.
O italiano Pedro Giachetto é considerado o primeiro cervejeiro da cidade, com uma fábrica aberta em 1880. Até 1890 o segmento já era movimentado por ao menos mais quatro pessoas, entre eles o alemão Jacob Boemer, segundo registros do pesquisador Leandro Maia Marques em tese de mestrado em história econômica na USP.
Fachada da Cervejaria Livi & Bertoldi, fundada por imigrantes italianos em Ribeirão Preto no final do século 19
Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto/ Acervo Museu da Cerveja de Ribeirão Preto
Os pequenos fabricantes, que tinham que recorrer a ingredientes como lúpulo e malte trazidos por importadores de São Paulo, continuaram atuantes ao menos até 1930 e eram inclusive mais numerosos do que produtores de aguardente, de acordo com o historiador.
E assim como muitas das atuais cervejarias artesanais, a essência dessa modalidade, da produção direto para o balcão, sem envase, era o modo como a bebida começou a ser comercializada nos primeiros bares da cidade.
De 1891, uma das primeiras cervejarias, segundo Paulo Almeida, se chamava “A Rapaziada”, e ficava na Rua General Osório, no Centro, onde hoje funciona um hotel. Há também registros da Cervejaria Livi & Bertoldi, que ficava na região da Avenida Capitão Salomão e funcionou a partir de 1892, produzindo, além de cervejas, licores e xaropes.
“Ribeirão Preto já produzia cerveja há mais de 130 anos através das mãos dos imigrantes alemães e italianos. Isso no final do século 19, muito antes da vinda da Antarctica. Essa produção era em pequena escala e a cerveja era consumida em balcão, no mesmo local onde era produzida. Era um processo muito semelhante ao da fabricação das atuais cervejas artesanais”, diz Almeida.
Foto da cervejaria Artarctica, inaugurada no início do século 20 em Ribeirão Preto, SP
Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto/ Acervo Museu da Cerveja de Ribeirão Preto
Industrialização e desenvolvimento
Em 1911, Ribeirão Preto tinha 29 pequenas cervejarias ativas quando ganhou sua primeira grande indústria do ramo, a primeira filial da Companhia Antarctica Paulista do país fora da cidade de São Paulo, que mudaria o paradigma do setor.
Ela trazia como novidade um processo de refrigeração que permitia a produção de baixa fermentação que consagraria a Pilsen.
“Os anos dourados do café acabaram atraindo investidores e as principais cervejas que eram de alta fermentação, do tipo Ale, mudaram com o pioneirismo da Antartica que trouxe a tecnologia da refrigeração. Com isso se poderia produzir outro tipo de cerveja”, afirma Almeida.
A sirene conhecida como ‘canto da sereia’ pelos moradores de Ribeirão Preto, SP, pautava o tempo na Vila Tibério
Cedoc/EPTV
Três anos mais tarde, primeiramente em uma rua do Centro e depois em frente à Antarctica, na Avenida Jerônimo Gonçalves, a Cervejaria Paulista se instalava para fazer concorrência e consolidar o novo perfil do segmento, mais industrial e com cada vez menos espaço para as pequenas fábricas.
O ritmo de produção chegou inclusive a ditar o tempo dos moradores e do comércio da cidade, com uma sirene importada da Alemanha nos anos 1920. O apelidado “canto da sereia” tocava três vezes ao dia na Antarctica para entrada e saída de funcionários.
Além de garantir a sobrevivência dos negócios em momentos como a crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as riquezas produzidas nesse período por essas duas indústrias foram determinantes para o desenvolvimento de Ribeirão Preto.
Hotel Central construído a partir de 1924, o primeiro do chamado Quarteirão Paulista em Ribeirão Preto, SP
Arquivo Público de Ribeirão Preto
Por um lado, como um importante centro urbano do ponto de vista econômico, por meio da geração de empregos, e por outro, do ponto de vista cultural, com a inauguração do “Quarteirão Paulista”, hoje tombado como patrimônio histórico.
O endereço é formado pelo Theatro Pedro II, uma das primeiras casas de ópera do país, ao lado do Palace Hotel e do edifício comercial Meira Júnior, em terrenos adquiridos pela Cervejaria Paulista.
“As fábricas da Antarctica e da Cervejaria Paulista são as precursoras dessa história, além de pequenas cervejarias que ficaram pelo caminho no século 20. As grandes cervejarias foram fundamentais para a construção de diversas ferramentas culturais na cidade”, afirma a sommelière de cervejas Bia Amorim.
Local que abrigou cervejaria Antarctica, na Vila Tibério, em Ribeirão Preto, SP, foi desativado em 2003
Carlos Trinca
Foi nessa região que se instalaria, no início dos anos 1930, outro importante marco da cultura cervejeira da cidade: a Choperia Pinguim.
Ao mesmo tempo em que ganhou notoriedade com o colarinho cremoso e o chope gelado, o bar, que chegou a ter duas unidades no mesmo quarteirão, consolidou uma lenda: um “chopeduto” que supostamente levava a cerveja produzida da Antarctica diretamente para o balcão da casa.
Atual administrador da choperia, José Paulo Ferreira, de 64 anos, tem um palpite. Para ele, essa crença pode ter se fortalecido a partir da construção de um sistema de canalização subterrâneo entre as duas fábricas, no período em que elas passaram a pertencer ao mesmo grupo, a Cervejaria Antarctica Níger, nos anos 1970.
“Quando a Companhia Antarctica comprou a Paulista, a Paulista ficava do lado de cá do rio, do Pinguim, e a Antarctica ficava do lado de lá, e eles construíram um duto por debaixo da Avenida Jerônimo Gonçalves, atravessando por debaixo do rio, para transportar, não sei exatamente qual era o produto, se era algum produto pra ser engarrafado na Paulista ou se era simplesmente água que passava de um lado pro outro. Talvez a lenda tenha surgido por causa disso”, diz.
Décadas depois, essa história ajudou a consolidar o título de capital do chope e ainda proporciona um ar de mistério ao estabelecimento no Centro, que atrai milhares de turistas. “A lenda do chopeduto realmente intriga os clientes até hoje, tem um pessoal que acredita que o chope vem direto da fábrica, sendo que nem a fábrica existe mais lá”, afirma Ferreira.
Garçom leva chope do Pinguim às mesas dos clientes no bar que fica no conjunto arquitetônico Quarteirão Paulista, coração de Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Até os anos 1990, a força dessa tradição cervejeira e o título de capital nacional do chope ficaram evidentes em uma capacidade de produção de aproximadamente 200 milhões de litros por ano. “Para a época era altamente representativo. Ela era tida como uma das quatro maiores cervejarias do país”, afirma Almeida.
Essa era industrial da cerveja em Ribeirão Preto chegaria ao fim nos anos 2000, quando a produção foi encerrada e transferida para Jaguariúna (SP) por conta da fusão da Antarctica com a Brahma na então recém-criada Ambev.
“Era parte do acordo junto aos órgãos federais que algumas marcas e unidades dos dois grupos deveriam ser vendidas ou desativadas, e nessa relação a de Ribeirão Preto foi uma delas. Foi vendida na época para um grupo canadense, que acabou desativando a unidade em 2003”, explica Almeida.
Choperia Pinguim, no Centro de Ribeirão Preto (SP)
Érico Andrade/g1
Cerveja artesanal: tradição remodelada
Em meio a uma tradição com risco de ficar adormecida, a ousadia de um empresário mudaria, de maneira definitiva, os rumos do segmento não só na cidade, como no país.
Até então ligado ao ramo farmacêutico e inspirado no que viu em uma viagem à Califórnia, Marcelo Carneiro criaria, em 1996, aquela que seria a primeira cervejaria artesanal da cidade, ainda ao estilo brewpub, produzindo e servindo no próprio estabelecimento.
Em vez da popular Pilsen, ele trazia como aposta na incipiente Colorado a Indian Pale Ale (IPA) com alto teor alcoólico e sabor amargo.
Marcelo Carneiro, fundador da Cervejaria Colorado
Divulgação
De rótulo em rótulo, a insistência dele e a aposta em ingredientes como mel, maracujá e mandioca o levariam, décadas mais tarde, a uma negociação com a Ambev, que tornaria produções locais conhecidas em todo o país.
A iniciativa de Marcelo Carneiro era apenas o ponto de partida para uma variedade de cervejarias que surgiriam em Ribeirão Preto nos últimos dez anos.
“A Cervejaria Colorado e o vanguardista Marcelo Carneiro são o ponto alto da nova fase não só de Ribeirão Preto, mas do mercado nacional. A influência da nova cervejaria e seus diferentes rótulos transforma como as pessoas consomem a cerveja e aceitam seus novos sabores. Da Colorado saem diversos profissionais que com experiência abrem seus próprios negócios e fortalecem mais a cultura da cidade”, afirma Bia Amorim.
Bia Amorim, sommelière de cervejas de Ribeirão Preto, SP
Hugo Battaglion
Até 2015 Ribeirão tinha quatro marcas. Hoje, são 16, de acordo com informações do Polo Cervejeiro, que está no centro de uma região que tem 30 cervejarias. Somente nas dez empresas associadas à entidade, a produção de cerveja estimada para 2022 é de 3 milhões de litros.
Pilsen, Weizen, Pale Ale e IPA estão entre os estilos mais fabricados na capital do chope, com mais de 100 prêmios em eventos nacionais e internacionais como Mondial de La Bière, World Beer Awards, London International Beer Challenge e Festival Brasileiro da Cerveja. Isso sem contar inovações que chamam a atenção mundo afora, como uma bebida anunciada como a primeira cerveja instantânea do mundo, levada pela Cervejaria Pratinha ao Mondial de La Bière em 2019.
Já na Weird Barrel, brewpub aberto desde 2015, além da temática pirata na decoração, a aposta está em receitas inusitadas, com ingredientes como gengibre e frutas vermelhas, explica o cervejeiro Rafael Moschetta.
“A gente não segue uma escola cervejeira específica, a gente gosta de fazer cervejas que considera incomuns ou estilos pouco populares”, afirma.
Cervejarias artesanais em Ribeirão Preto, SP, produzem atualmente cerca de 130 rótulos
Érico Andrade/g1
Paixão que virou negócio
Depois de atuar por mais de 20 anos na metalurgia, há dois anos o engenheiro João Paulo Bielli, de 40 anos, decidiu largar a profissão para transformar em negócio sua paixão por cervejas artesanais. Assim, o cervejeiro autodidata e o sócio Marcos Dias abriram a It’s Hop [Isso é lúpulo, em tradução livre], microcervejaria na zona Leste de Ribeirão Preto.
Depois de um período afetado pela pandemia, ele projeta um aumento de 62% no faturamento em 2022.
“Eu e meu vizinho fazíamos cerveja por hobby e eu sempre gostei muito de cerveja. Queria dar uma mudada na minha vida, aí decidimos empreender no mercado cervejeiro”, conta.
Com uma produção mensal de 3 mil litros, servida no mesmo local onde fica a fábrica, em growlers e barris, a empresa tem oito rótulos inspirados principalmente na escola belga, com estilos como Tripel e Dubbel. “É a mais eclética. São muitas cervejas de guarda, com elaboração mais especial e teores alcoólicos variados”, diz.
João Paulo Bielli, um dos criadores da microcervejaria It’s Hop em Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Novas formas de consumo
Ao passo que marcas e rótulos como esses se diversificam, também se abrem possibilidades de consumo. Desde 2014, Ribeirão Preto oferece um tour pelas fábricas para degustação de produtos.
Além disso, é da cidade o maior festival do Brasil dedicado à Indian Pale Ale (IPA), cerveja com amargor acentuado e cor acobreada. Realizado desde 2012 e recentemente levado a São Paulo, o IPA Day Brasil costuma reunir milhares de pessoas para a degustação de cervejas produzidas dentro do estilo, mas com variações em ingredientes.
Na última edição, em 2019, foram consumidos 6,5 mil litros de 40 rótulos lançados por empresas locais.
“Embora seja em Ribeirão Preto, é uma festa nacional, só 15% do público é de Ribeirão Preto. As pessoas já consideram a festa parte do calendário anual e se programam para viajar a Ribeirão Preto para participar da festividade. Depois voltam para suas cidades levando o que Ribeirão tem de melhor”, afirma Rafael Moschetta, fundador do evento.
A última edição do IPA Day foi realizada em 2019, em Ribeirão Preto, SP, antes da pandemia de Covid-19
Marcos Weiske
O setor também é protagonista de campanhas de repercussão nacional como a Semana da Justiça, quando cervejas são vendidas sem carga tributária na Invicta, fundada em 2011 pelo empresário Rodrigo Silveira e considerada uma das mais promissoras empresas da nova geração de cervejarias de Ribeirão Preto.
Com o retorno positivo, em vez de uma, hoje são quatro edições anuais, que além de preços promocionais coloca no mercado 32 novos rótulos com edições limitadas e produzidos com cervejarias parcerias do Brasil e do exterior.
“A gente oferece cervejas únicas, nunca mais produzidas, uma linha chamada linha finita. A cada edição a gente lança oito cervejas de oito cervejarias em colaboração com a Invicta e disponibiliza com essa base de clientes que compõem todo nosso mailing”, afirma Silveira.
Rodrigo Silveira, fundador da Cervejaria Invicta, em Ribeirão Preto (SP)
Rodolfo Tiengo/G1
Novas profissões
Assim como no passado, quando esteve fortemente associada à geração de empregos, a cerveja e sua nova safra de empresários também movimentam o mercado de trabalho local, indicando novos caminhos profissionais.
Além das tradicionais funções de um bar, como garçons e caixas, o segmento demanda sommeliers e mestres cervejeiros aptos a entender a complexidade de sabores e rótulos que esse universo proporciona.
“O aumento na oferta de produtos tem por consequência gerado um consumidor cada vez mais exigente e bem informado. Bares, restaurantes e principalmente as cervejarias têm percebido a necessidade desse profissional como peça importante na cadeia produtiva”, afirma Carlos Henrique Braghin, de 47 anos, professor no curso de sommelier do Senac de Ribeirão Preto.
Carlos Henrique Braghin, de 47 anos, professor no curso de sommelier do Senac de Ribeirão Preto
Érico Andrade/g1
Segundo ele, a formação, lançada há seis anos na cidade, tem atraído cada vez mais interessados ano após ano. O módulo, que forma em média um grupo de 16 alunos por ano, deve ter duas turmas em 2022.
“O sommelier é um profissional extremamente versátil ligado à área de serviços, porém, o curso abrange diversas áreas do universo cervejeiro como avaliações sensoriais, os principais ingredientes, estilos, escolas cervejeiras, serviço, elaboração de carta de cervejas, conceitos de harmonização gastronômica e, claro, o comportamento do mercado cervejeiro na atualidade.”
Nessa expansão de possibilidades dentro do universo cervejeiro, a região ainda dispõe de outras formações importantes, com a voltada para a produção e análise de cerveja, no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), em Sertãozinho (SP).
“O universo de cervejas é muito vasto, além do setor de serviços existem outras áreas como produção, seja para o cervejeiro caseiro, o homebrewer, ou para se tornar mestre cervejeiro, análises microbiológicas, controle de qualidade, comunicação e marketing voltados à área de cervejas”, analisa Braghin.
O sommelier André de Assis, de Ribeirão Preto (SP), especializado em cervejas artesanais
Érico Andrade/g1
Foi a infinidade de conhecimentos e sabores da bebida artesanal que levou o designer e diretor de arte André de Assis, de 39 anos, a trocar de profissão para entrar em definitivo para o universo das cervejas.
Técnico em produção cervejeira e sommelier, ele já passou por diferentes cervejarias da cidade, além de ter sido supervisor de bares na Ambev antes do atual emprego em um empório especializado em cervejas artesanais na zona Sul da cidade.
“Tudo que aprendi me ajuda no dia a dia, desde o atendimento, porque o atendimento é aquilo: você tem que entender o cliente, o que que ele quer, qual é o paladar, o prato. Ser sommelier me ajuda muito a entender o paladar e por onde guiar o meu cliente e a cerveja em si, conhecer como é o processo de produção e tudo mais, me ajuda o tempo todo”, conta.
Para ele, o mercado tem altos e baixos, mas tem se mostrado promissor, especialmente em Ribeirão Preto. “A cidade já é conhecida por cerveja, já vem das clássicas choperias, a gente consome muita cerveja, já tem isso no DNA da cidade.”
O empresário Augusto Cesar Balieiro, sócio-proprietário da Walfänger, em Ribeirão Preto (SP)
Érico Andrade/g1
Busca por reconhecimento
Para o empresário Augusto Cesar Balieiro, sócio-proprietário da Walfänger e um dos fundadores do Polo Cervejeiro de Ribeirão Preto, as cervejarias artesanais do município ainda têm muito a crescer, sobretudo na capilaridade do mercado, hoje forte principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
“Temos muito a conquistar ainda, temos que fazer chegar nosso produto às prateleiras com a mesma referência que ele atinge nossos clientes locais. Ainda temos grandes desafios”, diz.
Um dos caminhos para ampliar esse reconhecimento em âmbito nacional está na busca de um registro de indicação geográfica para as cervejas artesanais de Ribeirão Preto, algo ainda inédito no país. O selo é dado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a setores que comprovam alto nível de excelência de um determinado produto atribuído à sua origem.
Ribeirão Preto busca título de capital da cerveja artesanal
Érico Andrade/g1
No final de 2018, a ideia começou a ganhar força com a publicação de um edital do Instituto Federal de São Paulo. A escola é responsável pelo apoio técnico na parceria com a Associação Comercial e Industrial da cidade (Acirp), que representa o polo cervejeiro local e trabalha para demonstrar por que a cidade merece essa indicação.
A pandemia da Covid-19 tirou o projeto das prioridades do setor nos últimos meses, mas as pesquisas e as discussões tiveram continuidade.
“A gente refez o acordo de cooperação com a Acirp para tratar desse assunto e teve uma reunião para tratar do polo cervejeiro tem poucos dias, e esse assunto foi retomado como uma pauta prioritária”, afirma Jean Carlos Rodrigues da Silva, professor em Sertãozinho do Instituto Federal e coordenador do projeto de indicação geográfica das cervejas de Ribeirão Preto.
Junto ao governo do estado, a importância de Ribeirão Preto para o setor cervejeiro já foi reconhecida por meio da aprovação de um arranjo produtivo local (APL).
“O APL vem contribuir sobremaneira, primeiro porque ele atua em toda a cadeia produtiva, envolvendo insumos, periféricos, equipamentos, formação de mão de obra especializada, tecnologias, podendo dirimir os gargalos do processo de forma dinâmica contribuindo com todos os envolvidos”, afirma Augusto Balieiro.
Cultura cervejeira foi atualizada em Ribeirão Preto, SP, na última década com expansão de cervejarias artesanais
Érico Andrade/g1
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O calor, um bar como ponto turístico quase obrigatório e um sabor inconfundível. Poucas cidades do país despertam de maneira tão espontânea uma vontade de beber cerveja diante da possibilidade de visitá-la. É quase uma constante a associação entre a paixão nacional e Ribeirão Preto (SP), um dia chamada de capital do chope.
Verdade seja dita, seria injusto a cidade paulista sustentar sozinha um título como esse diante da infinidade de cervejarias país afora.
Mas é inegável que, em meio a uma tradição que não se apaga e iniciativas que vão além da Pilsen, rumo às artesanais premiadas internacionalmente, o município se destaca como um dos grandes polos cervejeiros do Brasil, com uma variedade de estilos que atualmente se consolidam em cerca de 130 rótulos, segundo especialistas do setor.
Além de ter sido indicada em 2021 por uma plataforma especializada em viagens como o melhor destino para se degustar cervejas no mundo, Ribeirão Preto é uma das dez cidades mencionadas no Anuário da Cerveja, do Ministério da Agricultura, com crescimento de 75% em número de empresas.
Tradição do chope e novidade da cerveja artesanal se fundem em Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Recentemente, a cidade ganhou, junto ao governo de São Paulo, a aprovação de um arranjo produtivo local (APL) de cervejarias e busca se tornar “capital da cerveja artesanal” por meio do registro de um selo de indicação geográfica ainda inédito no país. Representantes do setor também se organizam para construir, em 2023, um museu temático para difundir conhecimento e estimular ainda mais o turismo em torno dessa vocação econômica.
“Dentro de uma garrafa ou de um copo, aquele líquido traz uma história secular que relata a formação da nossa sociedade, a evolução do turismo, da hotelaria e dos serviços. A importância nesse resgate através da história e cultura cervejeira nos eterniza e nos engrandece como sociedade “, afirma Paulo Garcia de Almeida, diretor da Associação do Museu da Cerveja de Ribeirão Preto e pesquisador de ciência e história da cerveja.
Esta reportagem é uma das produções especiais que marcam os 10 anos do g1 EPTV, que cobre 317 cidades no interior de São Paulo e no Sul de Minas Gerais. Em 10 de fevereiro de 2012, o portal de notícias da Globo iniciava suas atividades com as afiliadas da emissora em Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), São Carlos (SP) e Varginha (MG).
À direita, fachada da Cervejaria A Rapaziada, fundada por imigrantes europeus em Ribeirão Preto no final do século 19
Associação Museu da Cerveja de Ribeirão Preto/Acervo
Os europeus e as pequenas fábricas
Há cerca de 150 anos, foram imigrantes europeus os responsáveis por iniciar a produção artesanal de cerveja e em pequena escala em Ribeirão Preto, em um cenário de crescimento urbano impulsionado pela cultura do café e pela conexão com ferrovias, por meio da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação.
Além disso, contavam a favor a disponibilidade de água diretamente extraída do Aquífero Guarani, um dos maiores mananciais subterrâneos do mundo, e o clima quente, que servia como convite para a bebida.
O italiano Pedro Giachetto é considerado o primeiro cervejeiro da cidade, com uma fábrica aberta em 1880. Até 1890 o segmento já era movimentado por ao menos mais quatro pessoas, entre eles o alemão Jacob Boemer, segundo registros do pesquisador Leandro Maia Marques em tese de mestrado em história econômica na USP.
Fachada da Cervejaria Livi & Bertoldi, fundada por imigrantes italianos em Ribeirão Preto no final do século 19
Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto/ Acervo Museu da Cerveja de Ribeirão Preto
Os pequenos fabricantes, que tinham que recorrer a ingredientes como lúpulo e malte trazidos por importadores de São Paulo, continuaram atuantes ao menos até 1930 e eram inclusive mais numerosos do que produtores de aguardente, de acordo com o historiador.
E assim como muitas das atuais cervejarias artesanais, a essência dessa modalidade, da produção direto para o balcão, sem envase, era o modo como a bebida começou a ser comercializada nos primeiros bares da cidade.
De 1891, uma das primeiras cervejarias, segundo Paulo Almeida, se chamava “A Rapaziada”, e ficava na Rua General Osório, no Centro, onde hoje funciona um hotel. Há também registros da Cervejaria Livi & Bertoldi, que ficava na região da Avenida Capitão Salomão e funcionou a partir de 1892, produzindo, além de cervejas, licores e xaropes.
“Ribeirão Preto já produzia cerveja há mais de 130 anos através das mãos dos imigrantes alemães e italianos. Isso no final do século 19, muito antes da vinda da Antarctica. Essa produção era em pequena escala e a cerveja era consumida em balcão, no mesmo local onde era produzida. Era um processo muito semelhante ao da fabricação das atuais cervejas artesanais”, diz Almeida.
Foto da cervejaria Artarctica, inaugurada no início do século 20 em Ribeirão Preto, SP
Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto/ Acervo Museu da Cerveja de Ribeirão Preto
Industrialização e desenvolvimento
Em 1911, Ribeirão Preto tinha 29 pequenas cervejarias ativas quando ganhou sua primeira grande indústria do ramo, a primeira filial da Companhia Antarctica Paulista do país fora da cidade de São Paulo, que mudaria o paradigma do setor.
Ela trazia como novidade um processo de refrigeração que permitia a produção de baixa fermentação que consagraria a Pilsen.
“Os anos dourados do café acabaram atraindo investidores e as principais cervejas que eram de alta fermentação, do tipo Ale, mudaram com o pioneirismo da Antartica que trouxe a tecnologia da refrigeração. Com isso se poderia produzir outro tipo de cerveja”, afirma Almeida.
A sirene conhecida como ‘canto da sereia’ pelos moradores de Ribeirão Preto, SP, pautava o tempo na Vila Tibério
Cedoc/EPTV
Três anos mais tarde, primeiramente em uma rua do Centro e depois em frente à Antarctica, na Avenida Jerônimo Gonçalves, a Cervejaria Paulista se instalava para fazer concorrência e consolidar o novo perfil do segmento, mais industrial e com cada vez menos espaço para as pequenas fábricas.
O ritmo de produção chegou inclusive a ditar o tempo dos moradores e do comércio da cidade, com uma sirene importada da Alemanha nos anos 1920. O apelidado “canto da sereia” tocava três vezes ao dia na Antarctica para entrada e saída de funcionários.
Além de garantir a sobrevivência dos negócios em momentos como a crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as riquezas produzidas nesse período por essas duas indústrias foram determinantes para o desenvolvimento de Ribeirão Preto.
Hotel Central construído a partir de 1924, o primeiro do chamado Quarteirão Paulista em Ribeirão Preto, SP
Arquivo Público de Ribeirão Preto
Por um lado, como um importante centro urbano do ponto de vista econômico, por meio da geração de empregos, e por outro, do ponto de vista cultural, com a inauguração do “Quarteirão Paulista”, hoje tombado como patrimônio histórico.
O endereço é formado pelo Theatro Pedro II, uma das primeiras casas de ópera do país, ao lado do Palace Hotel e do edifício comercial Meira Júnior, em terrenos adquiridos pela Cervejaria Paulista.
“As fábricas da Antarctica e da Cervejaria Paulista são as precursoras dessa história, além de pequenas cervejarias que ficaram pelo caminho no século 20. As grandes cervejarias foram fundamentais para a construção de diversas ferramentas culturais na cidade”, afirma a sommelière de cervejas Bia Amorim.
Local que abrigou cervejaria Antarctica, na Vila Tibério, em Ribeirão Preto, SP, foi desativado em 2003
Carlos Trinca
Foi nessa região que se instalaria, no início dos anos 1930, outro importante marco da cultura cervejeira da cidade: a Choperia Pinguim.
Ao mesmo tempo em que ganhou notoriedade com o colarinho cremoso e o chope gelado, o bar, que chegou a ter duas unidades no mesmo quarteirão, consolidou uma lenda: um “chopeduto” que supostamente levava a cerveja produzida da Antarctica diretamente para o balcão da casa.
Atual administrador da choperia, José Paulo Ferreira, de 64 anos, tem um palpite. Para ele, essa crença pode ter se fortalecido a partir da construção de um sistema de canalização subterrâneo entre as duas fábricas, no período em que elas passaram a pertencer ao mesmo grupo, a Cervejaria Antarctica Níger, nos anos 1970.
“Quando a Companhia Antarctica comprou a Paulista, a Paulista ficava do lado de cá do rio, do Pinguim, e a Antarctica ficava do lado de lá, e eles construíram um duto por debaixo da Avenida Jerônimo Gonçalves, atravessando por debaixo do rio, para transportar, não sei exatamente qual era o produto, se era algum produto pra ser engarrafado na Paulista ou se era simplesmente água que passava de um lado pro outro. Talvez a lenda tenha surgido por causa disso”, diz.
Décadas depois, essa história ajudou a consolidar o título de capital do chope e ainda proporciona um ar de mistério ao estabelecimento no Centro, que atrai milhares de turistas. “A lenda do chopeduto realmente intriga os clientes até hoje, tem um pessoal que acredita que o chope vem direto da fábrica, sendo que nem a fábrica existe mais lá”, afirma Ferreira.
Garçom leva chope do Pinguim às mesas dos clientes no bar que fica no conjunto arquitetônico Quarteirão Paulista, coração de Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Até os anos 1990, a força dessa tradição cervejeira e o título de capital nacional do chope ficaram evidentes em uma capacidade de produção de aproximadamente 200 milhões de litros por ano. “Para a época era altamente representativo. Ela era tida como uma das quatro maiores cervejarias do país”, afirma Almeida.
Essa era industrial da cerveja em Ribeirão Preto chegaria ao fim nos anos 2000, quando a produção foi encerrada e transferida para Jaguariúna (SP) por conta da fusão da Antarctica com a Brahma na então recém-criada Ambev.
“Era parte do acordo junto aos órgãos federais que algumas marcas e unidades dos dois grupos deveriam ser vendidas ou desativadas, e nessa relação a de Ribeirão Preto foi uma delas. Foi vendida na época para um grupo canadense, que acabou desativando a unidade em 2003”, explica Almeida.
Choperia Pinguim, no Centro de Ribeirão Preto (SP)
Érico Andrade/g1
Cerveja artesanal: tradição remodelada
Em meio a uma tradição com risco de ficar adormecida, a ousadia de um empresário mudaria, de maneira definitiva, os rumos do segmento não só na cidade, como no país.
Até então ligado ao ramo farmacêutico e inspirado no que viu em uma viagem à Califórnia, Marcelo Carneiro criaria, em 1996, aquela que seria a primeira cervejaria artesanal da cidade, ainda ao estilo brewpub, produzindo e servindo no próprio estabelecimento.
Em vez da popular Pilsen, ele trazia como aposta na incipiente Colorado a Indian Pale Ale (IPA) com alto teor alcoólico e sabor amargo.
Marcelo Carneiro, fundador da Cervejaria Colorado
Divulgação
De rótulo em rótulo, a insistência dele e a aposta em ingredientes como mel, maracujá e mandioca o levariam, décadas mais tarde, a uma negociação com a Ambev, que tornaria produções locais conhecidas em todo o país.
A iniciativa de Marcelo Carneiro era apenas o ponto de partida para uma variedade de cervejarias que surgiriam em Ribeirão Preto nos últimos dez anos.
“A Cervejaria Colorado e o vanguardista Marcelo Carneiro são o ponto alto da nova fase não só de Ribeirão Preto, mas do mercado nacional. A influência da nova cervejaria e seus diferentes rótulos transforma como as pessoas consomem a cerveja e aceitam seus novos sabores. Da Colorado saem diversos profissionais que com experiência abrem seus próprios negócios e fortalecem mais a cultura da cidade”, afirma Bia Amorim.
Bia Amorim, sommelière de cervejas de Ribeirão Preto, SP
Hugo Battaglion
Até 2015 Ribeirão tinha quatro marcas. Hoje, são 16, de acordo com informações do Polo Cervejeiro, que está no centro de uma região que tem 30 cervejarias. Somente nas dez empresas associadas à entidade, a produção de cerveja estimada para 2022 é de 3 milhões de litros.
Pilsen, Weizen, Pale Ale e IPA estão entre os estilos mais fabricados na capital do chope, com mais de 100 prêmios em eventos nacionais e internacionais como Mondial de La Bière, World Beer Awards, London International Beer Challenge e Festival Brasileiro da Cerveja. Isso sem contar inovações que chamam a atenção mundo afora, como uma bebida anunciada como a primeira cerveja instantânea do mundo, levada pela Cervejaria Pratinha ao Mondial de La Bière em 2019.
Já na Weird Barrel, brewpub aberto desde 2015, além da temática pirata na decoração, a aposta está em receitas inusitadas, com ingredientes como gengibre e frutas vermelhas, explica o cervejeiro Rafael Moschetta.
“A gente não segue uma escola cervejeira específica, a gente gosta de fazer cervejas que considera incomuns ou estilos pouco populares”, afirma.
Cervejarias artesanais em Ribeirão Preto, SP, produzem atualmente cerca de 130 rótulos
Érico Andrade/g1
Paixão que virou negócio
Depois de atuar por mais de 20 anos na metalurgia, há dois anos o engenheiro João Paulo Bielli, de 40 anos, decidiu largar a profissão para transformar em negócio sua paixão por cervejas artesanais. Assim, o cervejeiro autodidata e o sócio Marcos Dias abriram a It’s Hop [Isso é lúpulo, em tradução livre], microcervejaria na zona Leste de Ribeirão Preto.
Depois de um período afetado pela pandemia, ele projeta um aumento de 62% no faturamento em 2022.
“Eu e meu vizinho fazíamos cerveja por hobby e eu sempre gostei muito de cerveja. Queria dar uma mudada na minha vida, aí decidimos empreender no mercado cervejeiro”, conta.
Com uma produção mensal de 3 mil litros, servida no mesmo local onde fica a fábrica, em growlers e barris, a empresa tem oito rótulos inspirados principalmente na escola belga, com estilos como Tripel e Dubbel. “É a mais eclética. São muitas cervejas de guarda, com elaboração mais especial e teores alcoólicos variados”, diz.
João Paulo Bielli, um dos criadores da microcervejaria It’s Hop em Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Novas formas de consumo
Ao passo que marcas e rótulos como esses se diversificam, também se abrem possibilidades de consumo. Desde 2014, Ribeirão Preto oferece um tour pelas fábricas para degustação de produtos.
Além disso, é da cidade o maior festival do Brasil dedicado à Indian Pale Ale (IPA), cerveja com amargor acentuado e cor acobreada. Realizado desde 2012 e recentemente levado a São Paulo, o IPA Day Brasil costuma reunir milhares de pessoas para a degustação de cervejas produzidas dentro do estilo, mas com variações em ingredientes.
Na última edição, em 2019, foram consumidos 6,5 mil litros de 40 rótulos lançados por empresas locais.
“Embora seja em Ribeirão Preto, é uma festa nacional, só 15% do público é de Ribeirão Preto. As pessoas já consideram a festa parte do calendário anual e se programam para viajar a Ribeirão Preto para participar da festividade. Depois voltam para suas cidades levando o que Ribeirão tem de melhor”, afirma Rafael Moschetta, fundador do evento.
A última edição do IPA Day foi realizada em 2019, em Ribeirão Preto, SP, antes da pandemia de Covid-19
Marcos Weiske
O setor também é protagonista de campanhas de repercussão nacional como a Semana da Justiça, quando cervejas são vendidas sem carga tributária na Invicta, fundada em 2011 pelo empresário Rodrigo Silveira e considerada uma das mais promissoras empresas da nova geração de cervejarias de Ribeirão Preto.
Com o retorno positivo, em vez de uma, hoje são quatro edições anuais, que além de preços promocionais coloca no mercado 32 novos rótulos com edições limitadas e produzidos com cervejarias parcerias do Brasil e do exterior.
“A gente oferece cervejas únicas, nunca mais produzidas, uma linha chamada linha finita. A cada edição a gente lança oito cervejas de oito cervejarias em colaboração com a Invicta e disponibiliza com essa base de clientes que compõem todo nosso mailing”, afirma Silveira.
Rodrigo Silveira, fundador da Cervejaria Invicta, em Ribeirão Preto (SP)
Rodolfo Tiengo/G1
Novas profissões
Assim como no passado, quando esteve fortemente associada à geração de empregos, a cerveja e sua nova safra de empresários também movimentam o mercado de trabalho local, indicando novos caminhos profissionais.
Além das tradicionais funções de um bar, como garçons e caixas, o segmento demanda sommeliers e mestres cervejeiros aptos a entender a complexidade de sabores e rótulos que esse universo proporciona.
“O aumento na oferta de produtos tem por consequência gerado um consumidor cada vez mais exigente e bem informado. Bares, restaurantes e principalmente as cervejarias têm percebido a necessidade desse profissional como peça importante na cadeia produtiva”, afirma Carlos Henrique Braghin, de 47 anos, professor no curso de sommelier do Senac de Ribeirão Preto.
Carlos Henrique Braghin, de 47 anos, professor no curso de sommelier do Senac de Ribeirão Preto
Érico Andrade/g1
Segundo ele, a formação, lançada há seis anos na cidade, tem atraído cada vez mais interessados ano após ano. O módulo, que forma em média um grupo de 16 alunos por ano, deve ter duas turmas em 2022.
“O sommelier é um profissional extremamente versátil ligado à área de serviços, porém, o curso abrange diversas áreas do universo cervejeiro como avaliações sensoriais, os principais ingredientes, estilos, escolas cervejeiras, serviço, elaboração de carta de cervejas, conceitos de harmonização gastronômica e, claro, o comportamento do mercado cervejeiro na atualidade.”
Nessa expansão de possibilidades dentro do universo cervejeiro, a região ainda dispõe de outras formações importantes, com a voltada para a produção e análise de cerveja, no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), em Sertãozinho (SP).
“O universo de cervejas é muito vasto, além do setor de serviços existem outras áreas como produção, seja para o cervejeiro caseiro, o homebrewer, ou para se tornar mestre cervejeiro, análises microbiológicas, controle de qualidade, comunicação e marketing voltados à área de cervejas”, analisa Braghin.
O sommelier André de Assis, de Ribeirão Preto (SP), especializado em cervejas artesanais
Érico Andrade/g1
Foi a infinidade de conhecimentos e sabores da bebida artesanal que levou o designer e diretor de arte André de Assis, de 39 anos, a trocar de profissão para entrar em definitivo para o universo das cervejas.
Técnico em produção cervejeira e sommelier, ele já passou por diferentes cervejarias da cidade, além de ter sido supervisor de bares na Ambev antes do atual emprego em um empório especializado em cervejas artesanais na zona Sul da cidade.
“Tudo que aprendi me ajuda no dia a dia, desde o atendimento, porque o atendimento é aquilo: você tem que entender o cliente, o que que ele quer, qual é o paladar, o prato. Ser sommelier me ajuda muito a entender o paladar e por onde guiar o meu cliente e a cerveja em si, conhecer como é o processo de produção e tudo mais, me ajuda o tempo todo”, conta.
Para ele, o mercado tem altos e baixos, mas tem se mostrado promissor, especialmente em Ribeirão Preto. “A cidade já é conhecida por cerveja, já vem das clássicas choperias, a gente consome muita cerveja, já tem isso no DNA da cidade.”
O empresário Augusto Cesar Balieiro, sócio-proprietário da Walfänger, em Ribeirão Preto (SP)
Érico Andrade/g1
Busca por reconhecimento
Para o empresário Augusto Cesar Balieiro, sócio-proprietário da Walfänger e um dos fundadores do Polo Cervejeiro de Ribeirão Preto, as cervejarias artesanais do município ainda têm muito a crescer, sobretudo na capilaridade do mercado, hoje forte principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
“Temos muito a conquistar ainda, temos que fazer chegar nosso produto às prateleiras com a mesma referência que ele atinge nossos clientes locais. Ainda temos grandes desafios”, diz.
Um dos caminhos para ampliar esse reconhecimento em âmbito nacional está na busca de um registro de indicação geográfica para as cervejas artesanais de Ribeirão Preto, algo ainda inédito no país. O selo é dado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a setores que comprovam alto nível de excelência de um determinado produto atribuído à sua origem.
Ribeirão Preto busca título de capital da cerveja artesanal
Érico Andrade/g1
No final de 2018, a ideia começou a ganhar força com a publicação de um edital do Instituto Federal de São Paulo. A escola é responsável pelo apoio técnico na parceria com a Associação Comercial e Industrial da cidade (Acirp), que representa o polo cervejeiro local e trabalha para demonstrar por que a cidade merece essa indicação.
A pandemia da Covid-19 tirou o projeto das prioridades do setor nos últimos meses, mas as pesquisas e as discussões tiveram continuidade.
“A gente refez o acordo de cooperação com a Acirp para tratar desse assunto e teve uma reunião para tratar do polo cervejeiro tem poucos dias, e esse assunto foi retomado como uma pauta prioritária”, afirma Jean Carlos Rodrigues da Silva, professor em Sertãozinho do Instituto Federal e coordenador do projeto de indicação geográfica das cervejas de Ribeirão Preto.
Junto ao governo do estado, a importância de Ribeirão Preto para o setor cervejeiro já foi reconhecida por meio da aprovação de um arranjo produtivo local (APL).
“O APL vem contribuir sobremaneira, primeiro porque ele atua em toda a cadeia produtiva, envolvendo insumos, periféricos, equipamentos, formação de mão de obra especializada, tecnologias, podendo dirimir os gargalos do processo de forma dinâmica contribuindo com todos os envolvidos”, afirma Augusto Balieiro.
Cultura cervejeira foi atualizada em Ribeirão Preto, SP, na última década com expansão de cervejarias artesanais
Érico Andrade/g1
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